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- Intoxicação por novas substâncias psicoativas: descrição de um casoPublication . Castro, André Lobo; Sousa, Lara; Quintas, Maria José; Pedro, Costa; Rangel, Rui; Melo, Paula; Carneiro De Sousa Pinto Costa, Maria José; Tarelho, Sónia; Franco, João MiguelIntrodução: As novas substâncias psicoativas (NPS) representam um contexto emergente no mundo desenvolvido, e Portugal não é exceção. Apresentando diversas designações no mercado ilícito, estes compostos surgem de forma regular, substituindo outros previamente identificados pelas autoridades. Desse modo, o “mercado ilícito” tenta circundar as autoridades fiscalizadoras, sendo exemplo a identificação de mais de cem (100) substâncias diferentes, por ano, quer em 2014, quer em 2015. Os dados referentes a intoxicações por estas substâncias são escassos e dispersos devido à referida “volatilidade” no mercado, a qual condiciona o cumprimento dos critérios necessários para a identificação de substâncias. Os autores reportam um caso de intoxicação multi-substâncias, onde se incluem NPS. Material e Métodos: No âmbito da autópsia médico-legal realizada a um indivíduo do sexo masculino, com 26 anos, foram solicitados exames toxicológicos complementares, para determinação de Etanol, Drogas de Abuso e Substâncias Medicamentosas. O procedimento analítico incluiu a extração em fase sólida (SPE) das substâncias de interesse com recurso a cartuchos HLB OASIS® (Waters), e a utilização de técnicas de análise instrumental hifenadas, nomeadamente um cromatógrafo de gases GC-450 acoplado a um espectrómetro de massa do tipo triplo quadrupolo MS-300 (Bruker), um cromatógrafo de gases GC6780 acoplado a um espectrometro de massa do tipo quadrupolo simples 5973N (Agilent) e um Cromatógrafo líquido de ultra performance (UPLC), acoplado a um espectrómetro de massa do tipo triplo quadrupolo (WATERS). Foram analisadas amostras de sangue periférico e da cavidade cardíaca e diversos vestígios encontrados junto ao cadáver. Resultados: A análise dos vestígios permitiu a identificação das seguintes substâncias: 3-MeO-PCP (1-[1-(3-metoxifenil)ciclohexil]piperidina), DPT (N,N-dipropiltriptamina), XLR-11 (1-[5-(fluoropentil)-1H-indol-3-il]-(2,2,3,3-tetrametilciclopropil)metanona; 5-MeO-DMT (2-(metoxi-1H-indol-3-il)-N,N-dimetiletanamina) e O-desmetiltramadol (O-DT). A análise do sangue periférico permitiu a determinação de: O-desmetiltramadol (4225 ng/mL), THC (1,20 ng/mL), THCCOOH (4,50 ng/mL), Mianserina (74 ng/mL), Topiramato (VE:6393 ng/mL) e Bromazepam (138 ng/mL). A análise do sangue da cavidade cardíaca permitiu a determinação da 3-MeO-PCP (VE: 525 ng/mL). Todos os outros compostos identificados nos vestígios não foram encontrados nas amostras de sangue analisadas. Discussão: A informação social e os dados da autópsia não permitiram o diagnóstico diferencial médico-legal entre suicídio e acidente. Em contrapartida, a presença de vários compostos leva a concluir que a morte terá sido devida a uma intoxicação multi-substâncias, com especial relevância para os efeitos devidos às NPS presentes no sangue (3-MeO-PCP e O-DT).
- Intoxicação por 1,4-Butanediol: descrição de um casoPublication . Castro, André Lobo; Dias, Ana Sofia; Melo, Paula; Tarelho, Sónia; Franco, João MiguelIntrodução: O Ácido gamahidroxibutírico (GHB) é um composto endógeno, com ação conhecida em diversas áreas cerebrais. O seu uso ilícito inclui objetivos recreativos, o incremento da massa muscular, e como substância facilitadora de abuso sexual. A disponibilidade de dois percursores, nomeadamente a Gamabutirolactona (GBL) e o 1,4-butanediol (1,4-BD), os quais não se encontram alocados à lista de substâncias controladas, contrariamente ao próprio GHB, torna ainda mais fácil a sua obtenção e consumo. Material e Métodos: Um indivíduo do sexo masculino, com 25 anos, deu entrada no Serviço de Urgência de um Hospital Central, em estado de coma (CGS 7), com suspeita de intoxicação por ingestão de líquido, o qual o acompanhava. O SQTF recebeu uma amostra de soro e o referido líquido para análise. O procedimento analítico incluiu a análise direta do líquido por GC-MS, para identificação do mesmo, e a análise da amostra de soro através de extração líquido-líquido das substâncias de interesse, seguida da utilização de técnica de análise instrumental hifenada, nomeadamente um cromatógrafo de gases GC-450 acoplado a um espectrómetro de massa do tipo triplo quadrupolo MS-300 (Bruker). Resultados e Discussão: A análise do líquido permitiu a identificação da substância 1,4-Butanediol. A análise da amostra de soro permitiu a determinação de GHB numa concentração de 171 mg/L. Paralelamente, foi detetada, pela primeira vez, a presença do metabolito GHB-Glucuronizado (GHB-GLUC), metabolito este recentemente descrito. Conclusão: A informação hospitalar recebida indica que o indivíduo reverteu o estado comatoso, sem sugestão de sequelas neurológicas. Os dados clínicos e os resultados laboratoriais confirmam o diagnóstico de intoxicação por 1,4-Butanediol, detetado pela primeira vez no nosso país.
- Intoxicação por MDMA em Candidato a Dador de Coração Parado – Análise de um casoPublication . Castro, André Lobo; Almeida, Dina; Sousa, Lara; Costa, Pedro; Quintas, Maria José; Melo, Paula; Rangel, Rui; Tarelho, Sónia; Franco, João MiguelIntrodução: A dinâmica de consumo de substâncias ilícitas é caracterizada por tendências e “modas”, sempre com o objetivo de obter e experienciar os efeitos desejados, sejam estes de extremação sensorial, entactogénicos ou outros. No entanto, algumas substâncias mantêm‐se no mercado negro de forma consistente ao longo do tempo. É o caso das anfetaminas e dos seus derivados, as quais surgem de forma regular em casos de intoxicação. Os autores apresentam um caso ocorrido no norte de Portugal onde foi detetada MDMA em amostras post‐mortem, bem como em amostras recolhidas ao indivíduo ainda em contexto de emergência hospitalar, salientando‐se a excecionalidade deste procedimento. Material e Métodos: Trata‐se de um homem de 18 anos de idade, sem história conhecida de consumo de drogas de abuso. Foi ativado o INEM por inconsciência / suspeita de intoxicação por substância desconhecida. À chegada da equipa foi constatada respiração ruidosa, midríase fixa e hipertermia (temperatura auricular de 42ºC). Foram realizadas manobras de suporte básico e avançado de vida com administração de adrenalina. A vítima foi transportada ao serviço de urgência hospitalar e na primeira avaliação após constatação de assistolia, foram suspensas as manobras e a vítima foi avaliada e considerada como CDCP (Candidato a Dador de Coração Parado). Foi efetuada autópsia médico‐legal, tendo sido observada congestão visceral global e, a nível pulmonar, sufusões hemorrágicas subpleurais, edema marcado e áreas de hemorragia do parênquima. O exame anátomo‐patológico efetuado ao tecido pulmonar revelou a presença de hemorragia alveolar bilateral. Foram enviadas amostras de sangue periférico e da cavidade cardíaca para o SQTF para processamento analítico para pesquisa de etanol, drogas de abuso e substâncias medicamentosas. Posteriormente foram também recebidas amostras de sangue colhidas no SU com indicação da hora da colheita. Resultados e Discussão: A amostra de sangue periférico foi analisada, tendo sido verificada a ausência de etanol e a presença de lidocaína com uma concentração inferior a 500 ng/mL. O rastreio de drogas de abuso por imunoensaio sugeriu a presença de anfetaminas e derivados. A confirmação/quantificação de anfetaminas por GC‐MS‐single quad (LOD = 10 ng / mL), após o procedimento extrativo por SPE, revelou‐se positiva para MDMA [2278 ng / mL] e para MDA [49 ng / mL]. As amostras colhidas em contexto hospitalar mostraram‐se positivas para MDMA, com valores entre 504 ng/mL e 1918 ng/mL, e MDA, com valores entre 20 ng/mL e 89 ng/mL. Conclusões: Com o presente caso, os autores pretendem ressalvar que a análise dos resultados toxicológicos numa vítima submetida a procedimentos de colheita de órgãos para transplante carece de uma cuidadosa interpretação, tendo em conta o momento em que a colheita de amostra pode ser efetuada durante todo o processo, desde o internamento hospitalar até à realização da autópsia médico‐legal. Salienta‐se ainda a importância da comunicação com as unidades hospitalares, no sentido de, em casos específicos, poderem ser facultadas as amostras colhidas em contexto hospitalar, o mais próximo possível do momento do evento em estudo, tendo em conta que a concentração das substâncias pode alterar‐se durante a manutenção da vítima em suporte de vida.
- Quantificação de D9-THC, 11-OH-THC E THC-COOH por SPE e GC/MS-MS em sangue totalPublication . Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Quintas, Maria José; Costa, Pedro; Melo, Paula; Franco, João Miguel; Dias, MárioIntrodução: Os canabinóides, obtidos a partir de plantas da espécie Cannabis sativa, continuam a ser as substâncias ilícitas com maior prevalência de consumo a nível mundial. O seu abuso representa um problema importante de saúde pública não só devido aos efeitos nefastos para o organismo do indivíduo consumidor mas, também, devido ao facto de o seu consumo afetar negativamente diversas características psicomotoras relevantes para o desempenho de tarefas como a condução (e.g. capacidade de reação). Geralmente os canabinóides encontram-se presentes no organismo em baixas concentrações, nomeadamente o D9-THC e o 11-OH-THC, pelo que o laboratório de toxicologia forense deve dispor de métodos analíticos dotados de uma capacidade de deteção adequada a esta realidade. Acresce ainda o facto de a legislação em vigor para a avaliação do estado de influenciado por substâncias psicotrópicas, ao nível da fiscalização rodoviária, não definir um valor como critério de positividade, algo que torna ainda mais importante a adoção de métodos de elevada sensibilidade a fim de conferir uma representatividade adequada aos resultados obtidos. O objetivo deste trabalho incluiu a validação analítica de um procedimento para a deteção e quantificação, com fins forenses, de D9-THC, 11-OH-THC e THC-COOH em amostras de sangue total obtidas in vivo e post-mortem, bem como a avaliação da prevalência de casos positivos após a aplicação do respetivo procedimento analítico a casos reais. Material e Métodos: O procedimento analítico inclui a extração em fase sólida (SPE) das substâncias de interesse com recurso a cartuchos HLB OASIS® (Waters), a derivatização com BSTFA:TMCS 99:1 (Supelco) e a utilização de uma técnica instrumental hifenada com recurso a um cromatógrafo de gases GC-450 acoplado a um espectrómetro de massa do tipo triplo quadrupolo MS-300 (Bruker). Resultados: Este trabalho conduziu ao desenvolvimento de um método cromatográfico capaz de permitir a separação total dos três compostos e a deteção por MS-MS através da monitorização de dois iões (m/z 289 e 305) obtidos a partir do ião-percursor m/z 371, para cada composto. O ião m/z 289 é utilizado para efeitos de quantificação. Como padrões internos utilizaram-se os análogos deuterados. A validação analítica incluiu o estudo, entre outros, dos seguintes parâmetros: especificidade e seletividade (0% de falsos resultados positivos ou negativos), limiares analíticos de deteção (LoD) e quantificação (LoQ) e a linearidade na gama de trabalho considerada (LoQ de 1 ng/mL e desempenho linear entre 1-100 ng/mL para todos os compostos avaliados), rendimento do procedimento extrativo, arrastamento entre análises e repetibilidade (inferior a 15%). Discussão: O método desenvolvido evidenciou ser adequado para a deteção e quantificação dos canabinóides selecionados tendo sido obtidos bons resultados ao nível do LoD e LoQ. Estes limiares analíticos são adequados para a deteção e quantificação destas substâncias em contexto forense, nomeadamente no caso das amostras biológicas colhidas âmbito da aplicação do Código da Estrada. Este procedimento analítico foi aplicado à rotina laboratorial representando uma melhoria efetiva na qualidade da resposta do laboratório, evidenciada através do aumento no número de casos positivos nas amostras analisadas relativamente ao procedimento analítico anteriormente em vigor.
- 1,4-Butanediol intoxication: a case reportPublication . Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Dias, Ana Sofia; Melo, Paula; Teixeira, Helena; Franco, João MiguelGamma-hidroxibutyric acid (GHB) is an endogenous compound with known action at the neural level. Its psychoactive effects led to an illicit use context including recreational purposes, muscle building effects in bodybuilders and drugs-facilitated crimes, specifically, in sexual assaults. Besides the use of the main compound, there are precursors, like Gammabutyrolactone (GBL) and 1,4-butanediol (1,4-BD), usually non controlled substances, allowing a much easier way to obtain the target-compound. The authors present the first reported intoxication case in Portugal with 1,4-Butanediol, including the quantification of GHB and GHB-GLUC in serum, by GC-MS/MS TQD. A male, 25 years old, entered in coma at the hospital emergency room, with the suspicion of an intoxication due to an unknown liquid ingestion. The forensic toxicology lab was asked to collaborate in order to identify the possible substance(s) involved and provide adequate treatment to the patient. The suspicious liquid and a serum sample were sent by the hospital and analysed by GC-MS-single quadrupole and GC-MS/MS TQD, respectively. A methodology including protein precipitation and GC-MS/MS TQD analysis was used to detect and quantify GHB and GHB-GLUC in serum. Toxicological analysis revealed the presence of 1,4-Butanediol in the liquid and GHB [171 mg/L] and GHB-GLUC [13,7 mg/L] in serum.The victim reverted the coma state with no neurological sequelae. This was the first detected case in Portugal with 1,4-Butanediol, suggesting that it is important to be aware that consumers have different options to acess illicit compounds, such as GHB. On the other hand, GHB-GLUC was identified and quantified for the first time in a real case sample, due to intoxication. This case highlights the importance of analyzing all samples for active compounds, percursors and metabolites that can lead to the main intoxication origin.
- Validação de metodologia analítica para doseamento de biomarcadores de etanol em sangue por LA-MS/MSPublication . Vilas Boas, Ana; Franco, João Miguel; Carmo, Helena; Melo, PaulaO abuso e a dependência de álcool são bastante comuns e têm elevado impacto em questões de saúde e sociais. Desta forma, torna-se importante o desenvolvimento de metodologias para identificar casos de alcoolismo agudo e/ou crónico ou para confirmar a abstinência de etanol em determinadas situações médico-legais. Uma vez que o etanol é rapidamente eliminado do organismo, a validação de metodologias analíticas para a quantificação dos seus biomarcadores de exposição torna-se bastante útil em toxicologia forense, nomeadamente em contextos laborais, em casos de regulação do poder paternal e em situações post-mortem, auxiliando na distinção entre a ingestão e a formação post-mortem de etanol. Os autores apresentam a validação de metodologia analítica para a quantificação de etil-glucuronídeo e etil-sulfato em amostras de sangue, por LC-MS/MS. O método está a ser validado num equipamento de cromatografia líquida Exion LC da Sciex acoplado a um detetor de massa QTrap 6500+, da Sciex, sendo as amostras previamente submetidas a um procedimento de precipitação proteica com metanol. A separação cromatográfica é efetuada recorrendo a uma coluna Acquity UPLC HSS T3 (2,1*100mm; 1,8 µm de tamanho de partícula), usando como fase móvel uma mistura de ácido fórmico 0,1% e metanol, em gradiente. A deteção dos compostos é efetuada por MRM, sendo a ionização feita por electrospray, em modo negativo, utilizando duas transições para cada um dos compostos e respetivos padrões internos. O método demonstrou ser específico e seletivo. Para os limites de deteção e quantificação foi assumido o valor de 100 ng/mL para os dois compostos, apesar da determinação destes através do método do desvio padrão residual e declive da curva de calibração ter resultado em valores inferiores. O rendimento de extração foi calculado a 2 níveis de concentração, 700 ng/mL e 3000ng/mL tendo-se obtido resultados médios de 82% para o etil-glucuronídeo e de 99% para o etil-sulfato. A linearidade foi avaliada entre as concentrações de 100 e 10000 ng/mL, tendo sido estudados vários fatores de ponderação. A veracidade e precisão encontram-se em fase de avaliação. A determinação destes biomarcadores associada à determinação direta do etanol, contribuirá para uma resposta mais abrangente em contexto forense, permitindo detetar a exposição ao etanol com maior sensibilidade.
- Intoxicação por cocktail de substâncias: e a buprenorfina? A propósito de um casoPublication . Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Sá, Manuel; Maria José, Quintas; Costa, Pedro; Melo, Paula; Jardim, Patrícia; Franco, João MiguelIntrodução: O consumo ilícito de Heroína e de Cocaína representam uma preocupação incontornável de saúde pública. No nosso país, o combate a esse consumo faz-se, no caso da dependência de Opiáceos, pela utilização de substâncias antagonistas dos recetores de opiáceos como meio de tratamento/controlo/desintoxicação. Apesar de a metadona ser a substância mais utilizada, existem outras que se apresentam como alternativas, nomeadamente a buprenorfina e a naloxona. Todas elas apresentam, no entanto, riscos associados à sua utilização. Material e Métodos: Os autores apresentam um caso de um indivíduo do sexo masculino, de 39 anos de idade, com passado de toxicodependência, em tratamento de desintoxicação com buprenorfina, com história de tentativa de suicídio prévia (1 mês antes), que terá sido encontrado já cadáver no domicílio acompanhado de nota de despedida e de duas seringas (uma delas contendo líquido acastanhado no seu interior), tendo sido levantada a suspeita de morte por intoxicação (overdose). A amostra de sangue com origem na cavidade cardíaca foi analisada no SQTF-N. Resultados e Discussão: Os valores encontrados coadunam-se com a hipótese de uma intoxicação aguda por multi-substâncias, tendo em conta o curto tempo de semi-vida da cocaína. Apesar dos valores encontrados para a morfina e cocaína serem muito baixos o de buprenorfina era cerca de 4 vezes superior aos valores terapêuticos descritos na literatura consultada, o que aponta para um papel relevante deste composto no contexto da intoxicação. Ressalva-se também que o valor encontrado para a benzoilecgonina foi elevado, o que representa sempre uma dificuldade suplementar de interpretação tendo em conta que é um metabolito inativo e que se pode formar espontaneamente a partir da cocaína no período post-mortem, podendo, por esse facto, o valor de concentração obtido para a cocaína estar subvalorizado. Conclusões: A conjugação da informação policial e social obtida, associada aos dados necrópsicos e aos resultados dos exames toxicológicos, permitiu concluir que a morte foi devida a intoxicação aguda de multi-substâncias, com especial relevo para a presença da buprenorfina que a vítima tomava no contexto de tratamento de desintoxicação, associada a consumo recente de drogas de abuso como a cocaína e heroína, o que se harmoniza com a hipótese de suicídio inicialmente colocada.
- Consumo de álcool e drogas ilícitas e suas associações com acidentes fatais de viação na Região Norte de PortugalPublication . Santos, Fabiana; Castro, André Lobo; Sousa, Lara; Quintas, Maria José; Melo, Paula; Costa, Pedro; De Martinis, Bruno; Tarelho, Sónia; Rangel, Rui; Franco, João MiguelIntrodução: É do conhecimento geral que o consumo de álcool e drogas aumenta o risco de envolvimento em acidentes de viação com vítimas fatais. Demonstrar a ocorrência dessas associações numa população permite conhecer a realidade desse cenário e desenvolver medidas de prevenção e controlo desses eventos. O presente estudo teve como objetivo verificar a presença de associação entre acidente de viação e a positividade dos resultados para álcool e drogas ilícitas nas amostras de sangue post-mortem de condutores da região Norte de Portugal. Metodologia: como fonte de dados, foi utilizado o sistema STARLIMS, no qual foram selecionados processos provenientes do Serviço de Clínica e Patologia Forenses da Delegação do Norte do INMLCF, I.P., relativos ao período entre Janeiro de 2014 e Junho de 2018. Foram incluídos, no estudo, apenas os processos com requisição para pesquisa concomitante de álcool e drogas de abuso. O grupo classificado como exposto a determinada substância (drogas ou álcool) foi constituído por processos que apresentaram amostra de sangue com resultado positivo no respetivo ensaio de confirmação, enquanto o grupo não exposto foi constituído por processos que apresentaram resultado negativo nos ensaios de rastreio ou de confirmação. A informação do estatuto de condutor no evento “acidente de viação” foi obtido no sistema, na secção que descreve a provável etiologia médico-legal. Para verificar a associação entre a ocorrência de acidentes de viação com condutores (variável dependente) e a exposição às drogas ilícitas (canabinoides, cocaína, heroína e anfetaminas ilícitas) e ao álcool (variáveis independentes) foi realizada a regressão logística multivariada com o método de seleção automática das variáveis denominado backward. Para avaliar a adequação do modelo de regressão logística proposto foi realizado o teste de Hosmer & Lemeshow e a determinação da área sob a curva da curva ROC. O programa estatístico utilizado foi o MedCalc versão 16.4.3. Resultados: Dos 4300 casos incluídos neste estudo, 197 (4,5%) foram de condutores envolvidos em acidentes fatais de viação, enquanto que os demais 4103 casos (95,5%) apresentaram outras etiologias de causa de morte (homicídios, suicídios, acidente doméstico, etc). Destes 197 condutores, quase metade (95/197 ou 48,2%) apresentaram resultado positivo em amostras de sangue para alguma substância (etanol e/ou drogas de abuso), sendo que 87 (44,2%) para álcool e 17 (8,6%) para canabinoides. Entre os condutores, não houve resultados positivos para heroína, cocaína e anfetaminas ilícitas. A ocorrência de acidentes de viação com esses condutores associou-se com a positividade dos resultados para análise de álcool (P<0,0001; Odds ratio= 2,2068; IC 95%=1,6509-2,9497) e para canabinoides (P=0,0140; Odds ratio= 1,9254; IC 95%=1,1418-3,2469). Assim, condutores sob efeito de álcool apresentaram 2,2 vezes mais chances de se envolverem em acidentes fatais quando comparado com o grupo não exposto, enquanto os condutores expostos aos canabinoides apresentaram 1,9 mais chances de se envolverem em acidentes fatais quando comparado com o grupo controlo. O modelo de regressão proposto, com duas variáveis independentes, apresentou uma adequação aceitável (P=1 e AUC = 0,599). Conclusão: Foram observadas altas prevalências de exposição ao álcool em condutores envolvidos em acidentes fatais de viação na região norte do País. A presença de associação entre a ocorrência de acidentes de viação fatais com condutores e uso de canabinoides e álcool, com destaque para uma maior associação para este último, corrobora os resultados descritos na literatura.
- Intoxicação por fentanil ilícito – Análise de um casoPublication . Tarelho, Sónia; Stasyuk, Mykola; Castro, André Lobo; Melo, Paula; Sousa, Lara; Teixeira, Helena; Santos, Agostinho; Franco, João MiguelO fentanil é um opióide depressor do sistema nervoso central. É prescrito para o controlo da dor crónica e grave, de lesões nervosas, traumas graves, entre outros. Paralelamente, também é sintetizado ilegalmente e usado como uma droga recreativa, muitas vezes misturado com heroína ou cocaína. Na Europa, desde a sua primeira deteção em 2012, foram notificados ao EMCDDA (European Monitoring Centre for Drugsand Drug Addiction) um total de 24 novos casos de fentanil. A maioria destes foi reportada a partir do início de 2016, tendo sido detetados 6 casos até setembro de 2017, nenhum deles em Portugal. Desde 2013 que o fentanil e seus análogos têm estado associados a mortes em todos os estados dos EUA e na Europa, e a prescrição indevida de opióides e a sua produção ilegal são fenómenos crescentes e já sobejamente discutidos. Assim, atualmente, há uma enorme preocupação com a relação entre essa substância e o aumento alarmante do número de overdoses relacionadas com o consumo de substâncias opióides. Os autores apresentam o primeiro caso ocorrido no norte de Portugal onde o fentanil foi detetado em amostras post-mortem, como resultado do seu uso ilícito. Um homem de 31 anos foi encontrado morto num quarto de hotel, com um saco plástico a cobrir na cabeça, preso à volta do pescoço com cordão de nylon e fita adesiva. Encontrava-se com um leitor de MP4 com auriculares ligados, com os terminais por baixo do saco, como se tivessem caído das cavidades auriculares. O cadáver mostrava sinais de desidratação e todos os achados apontavam para uma etiologia suicida. No local foram encontrados blisters vazios de Alprazolam, juntamente com um espelho contendo resíduos de um pó branco e dois sacos de plástico pequenos transparentes, um deles contendo também um pó branco. Foram enviadas amostras de sangue cardíaco para o SQTF para processamento analítico, assim como os pós mencionados. A identificação e a quantificação do fentanil em amostras de sangue post-mortem foi realizada num GC-MS-single quad (LD = 3 ng / mL), após procedimento extrativo por extração em fase sólida. Os pós também foram identificados como Fentanil por GC-MS-single quad sem procedimento de extração. A análise ao sangue foi positiva para alprazolam [123 ng / mL] e para o insuspeitado fentanil [158 ng / mL]. Em Portugal, é a primeira vez que o fentanil é detetado em amostras post-mortem em contexto de uso ilícito, e o relatório da autópsia sugere que, tendo em conta todas as evidências, tudo aponta para uma morte num contexto de suicídio, sem sinais de lesões capazes de conduzir à morte provocadas por terceiros. Combinando os resultados toxicológicos com os achados da autópsia, bem como as informações policiais, não é possível excluir a morte por intoxicação por fentanil, tendo ainda em associação outro agente depressor do sistema nervoso central. Este resultado está alinhado com a realidade encontrada noutros países, sugerindo que o uso ilícito de opióides sintéticos, nomeadamente o fentanil, representa um problema crescente de saúde pública, exigindo vigilância em vários campos, incluindo autoridades fiscalizadoras, entidades governamentais e toxicologistas, para citar alguns, a fim de ser possível levar a cabo a contenção do consumo crescente deste tipo de substâncias.
- Desenvolvimento de método analítico para a quantificação de biomarcadores de etanol por LC-MS/MSPublication . Melo, Paula; Costa, Pedro; Quintas, Maria José; Sousa, Lara; Franco, João MiguelIntrodução: O etil‐glucuronídeo (EtG) e o etil‐sulfato (EtS) são biomarcadores do consumo de etanol. Estes compostos são metabolitos específicos do etanol resultantes da sua conjugação com uridina‐5 difosfo ácido glucurónico e com a 3‐ fosfoadenosina 5‐fosfosulfato, respetivamente. A sua determinação analítica revela‐se uma mais‐valia em contexto forense, uma vez que estes compostos permanecem detetáveis, em amostras biológicas, durante um período de tempo mais alargado do que o etanol. Desta forma, a sua análise poderá ver vantajosa em casos de alcoolismo, em situações em que é necessário verificar a abstinência do consumo de etanol, em contextos laborais e, em situações post‐mortem, auxiliando na distinção entre a ingestão e a formação post‐mortem de etanol. Material e métodos O método apresentado foi desenvolvido num equipamento de LC‐MS/MS (UPLC) da Waters, tendo as amostras sido previamente submetidas a procedimento de precipitação proteica com acetonitrilo. A separação cromatográfica foi efetuada recorrendo a uma coluna Acquity UPLC HSS T3 (2,1x 100 mm; 1,8 µm de tamanho de partícula), usando como fase móvel uma mistura de ácido fórmico 0,1% e metanol, em gradiente. A deteção dos compostos foi efetuada por MRM, tendo a ionização sido feita por electrospray, em modo negativo. Resultados: Foram selecionadas duas transições para cada um dos compostos (EtG: 221>75; 221>85; EtS; 124,9>80,1; 129,9>96,9) e uma para o correspondente composto deuterado. O método revelou‐ se rápido, com apenas 6 minutos de análise cromatográfica e de fácil preparação da amostra, permitindo detetar concentrações na ordem dos 100 ng/mL, para ambos os compostos, em amostras de sangue e de urina. Discussão e Conclusões: A deteção de etanol é das análises mais importantes em termos forenses. Uma vez que o etanol é rapidamente eliminado do organismo, revela‐se vantajosa a criação de metodologia para a deteção dos seus biomarcadores. Os biomarcadores de álcool são indicadores fisiológicos de exposição ou ingestão de álcool e podem indiciar consumo de álcool a nível crónico e/ou agudo. Foi desenvolvido um método rápido para análise dos biomarcadores, EtG e ETS em amostras de sangue e de urina. Após a necessária validação e participação adequada em ensaios interlaboratoriais, este método poderá ser utilizado como resposta a questões médico‐legais relacionadas com o consumo de etanol.