IANA - Comunicações em Eventos Científicos
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Browsing IANA - Comunicações em Eventos Científicos by Subject "Acrasia coletiva"
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- Acrasia coletiva e narrativas climáticas. Uma perspetiva hermenêuticaPublication . Sousa Basto, RuiAs reflexões, análises e estudos realizados pelos investigadores das Humanidades sobre o Antropoceno recorrem, por vezes, a narrativas para fazerem chegar as suas mensagens aos públicos a que se destinam. As narrativas são importantes porque simplificam o conteúdo das mensagens, facilitando o processo de comunicação. No caso particular da crise climática, várias narrativas e arranjos de narrativas têm emergido na literatura. A narrativa composta de múltiplas camadas de Rolf Lidskog, as narrativas socioecológicas identificadas por Maristella Svampa e o "cardápio de narrativas" de Christophe Bonneuil são exemplos disso. Entre essa multiplicidade de narrativas, cada uma com os seus matizes e tonalidades, destacam-se duas que ocupam extremos diametralmente opostos: a narrativa naturalista, dos cientistas da natureza, defensores do desenvolvimento sustentável, da monitorização do sistema-Terra e das tecnologias verdes; e a narrativa eco-catastrofista, daqueles que advogam mudanças radicais no modo de vida atual para reduzir a possibilidade de um colapso ambiental, argumentando que é impossível crescer infinitamente num planeta finito. No pensamento hermenêutico de Gadamer, cada indivíduo ou grupo interpreta a realidade a partir de um horizonte de compreensão específico, moldado por tradições, preconceitos e experiências. O mesmo sucede, naturalmente, com os responsáveis políticos, económicos e financeiros que governam o mundo, pois embora tenham consciência de que as medidas que têm vindo a tomar para combater a crise climática são insuficientes, não agem de acordo com esse conhecimento, o que revela um eventual estado de acrasia coletiva. Esta falha em agir de acordo com o conhecimento pode ser vista como um problema hermenêutico de compreensão, tanto no que diz respeito à interpretação dos factos, como à relação entre compreensão e ação. Neste contexto, a presente investigação procura identificar formas de ultrapassar o estado atual de acrasia coletiva através da lente da hermenêutica filosófica, aplicando os seus conceitos à análise das narrativas climáticas e à inação dos líderes. Pretende, assim, propor um espaço de diálogo transformador, promovendo o encontro entre o horizonte dos intérpretes e o horizonte do objeto de interpretação.
- O ativismo climática na comunicação social em contexto de acrasia coletivaPublication . Sousa Basto, RuiA Convenção de Aarhus, relativa ao acesso à informação, participação do público no processo de tomada de decisão e acesso à justiça em matéria de ambiente, procura contribuir para a proteção do direito das gerações presentes e futuras a viverem num meio benéfico à sua saúde e bem-estar. A Convenção estabelece a obrigação de que ninguém será penalizado, perseguido ou assediado durante o exercício desse direito. Assim, quando soaram os alarmes de que os preceitos da Convenção estavam a ser violados em vários Estados europeus democráticos, foi nomeado um Relator Especial da ONU para tratar as denúncias de ameaças, intimidação, violência, detenção e até assassinatos que estariam a ser cometidos pelas forças policiais sobre ativistas climáticos. O Relator Especial, Michel Forst, produziu um relatório em fevereiro de 2024 a denunciar a crescente repressão dos Estados europeus sobre o ativismo climático, que classificou de grave ameaça à democracia e aos direitos humanos. Michel Forst é contundente na crítica que faz à comunicação social, acusando-a de utilizar uma linguagem depreciativa e difamatória para descrever os ativistas climáticos, servindo de caixa-de-ressonância dos políticos – que nos parlamentos, em entrevistas públicas e nas redes sociais acusam os ativistas de ecoterroristas, comparando os seus métodos aos das organizações criminosas. Assim, os repórteres e jornalistas de opinião reforçam a ideia de que as ações dos ativistas são ilegítimas, ilegais e violentas. Através da “opinião publicada”, alguns meios de comunicação social têm contribuído para formar uma “opinião pública” distorcida da realidade por razões de manipulação, preconceito ou desinformação. Esta investigação analisa este fenómeno nos países europeus, com foco em Portugal, relacionando-o com o estado de acrasia coletiva que impede os poderes instituídos, incluindo o quarto poder, de fazerem o que deve ser feito, mesmo sabendo que o que deve ser feito serve melhor os seus interesses.
- Bem-estar intergeracional no antropocenoPublication . Sousa Basto, RuiA presente investigação é realizada sob o efeito da notícia recente, publicada pelo Centro de Resiliência de Estocolmo, de que seis dos nove limites planetários foram ultrapassados por efeito do Antropoceno. Os três limites planetários que ainda não foram ultrapassados são a degradação da camada de ozono estratosférica, a carga atmosférica de aerossóis e a acidificação dos oceanos, que ainda se mantêm no espaço operacional seguro para a humanidade. O Antropoceno é o maior desafio ético-político que a humanidade alguma vez enfrentou. A sua natureza é polissémica, porque tanto poderá vir a significar a designação da Época geológica posterior ao Holoceno, quanto um conceito cultural que obriga a repensar a condição humana. O surgimento deste novo tempo resulta do facto de a humanidade se ter tornado uma força telúrica capaz de modificar as condições de funcionamento do sistema-Terra. A presente investigação analisa os impactos que o Antropoceno poderá vir a causar no bem-estar das gerações futuras, sejam estas próximas ou longínquas. Para esse objetivo, são analisadas as teorias do bem-estar humano mais significativas (hedonismo clássico de Bentham e Mill, satisfação das preferências/desejos informados e lista objetiva), a teoria das capacidades (capabilities) nas abordagens de Amartya Sen e Martha Nussbaum e a ética desenvolvida por Hans Jonas, de natureza ecocêntrica e transtemporal, debruçada sobre a relação entre a Natureza e a humanidade. Por fim, conclui-se que todas as teorias apresentam dificuldades conceptuais sobre o bem-estar intergeracional e admite-se a possibilidade de existência de um estado de acrasia coletiva que tem vindo a impedir a humanidade, ou os seus dirigentes e líderes, de agir no melhor interesse das gerações vindouras.
- Desobediência civil do ativismo climático em contexto de acrasia coletivaPublication . Sousa Basto, RuiEm sentido lato, a ideia de desobediência civil tem ocupado as reflexões dos filósofos: Sófocles e Sócrates, na Antiguidade, Tomás de Aquino, na Idade Média e La Boétie e J. Locke, na modernidade, são exemplos disso. No entanto, foi em meados do século XIX que o conceito ganhou popularidade internacional e assento na filosofia política através do célebre ensaio de H.D. Thoreau, que inspirou M. Gandhi e M.L. King. Mais tarde, vários filósofos apresentaram as suas perspetivas sobre o tema, como H. Arendt e J. Habermas, mas são os contributos do pensamento liberal de J. Rawls, R. Dworkin, D. Cohen e M. Waltzer que circunscrevem e consolidam a desobediência civil aos limites da fidelidade ao Direito, confinando-a à exigência da não-violência e à aceitação, pelos agentes desobedientes, da possibilidade de serem punidos criminalmente, tal como hoje sucede. Todavia, esta conceção liberal da desobediência civil, focada nos princípios da justiça e dos direitos individuais, tem sido alvo de críticas por alegadamente não responder aos desafios do século XXI, como é o caso da crise climática. Isto sucede, por um lado, porque as questões ambientais não estão diretamente relacionadas com as liberdades fundamentais, e, por outro lado, porque poderemos estar em presença de um comportamento acrático coletivo que nos impede de fazermos o que deve ser feito, mesmo sabendo que o que deve ser feito serve melhor os nossos interesses. Assim, esta investigação divide-se em três partes. Na primeira parte faremos uma breve introdução à evolução do conceito de responsabilidade civil; na segunda parte, analisaremos o ativismo climático das novas gerações; na terceira e última parte discutiremos a possibilidade de existência de acrasia coletiva nos agentes que têm a responsabilidade de evitar a ultrapassagem dos limites planetários, mantendo um espaço operacional seguro para a humanidade.
- A Geoengenharia como sintoma de acrasia coletivaPublication . Sousa Basto, RuiA promessa iluminista do século XVIII de que o ser humano passara a ser dono e senhor da Natureza à luz da razão e das conquistas da ciência e da tecnologia sofreu um duro revés com o advento do Antropoceno. Essa visão providencialista da História colheu a unanimidade do pensamento filosófico e político de então e permaneceu intacta no século seguinte, beneficiando da concordância de diversas correntes ideológicas, desde os liberais até aos marxistas. Vingou ainda durante o século XX, onde a ideia de bem-estar e felicidade, inflamada pela sociedade de consumo que entretanto surgira, se encontrava associada a cada novo dispositivo tecnológico lançado no mercado. Neste contexto, o Antropoceno atuou como a luz amarela de um semáforo de trânsito, avisando que seria impossível crescer infinitamente num planeta finito. Sobre a natureza do Antropoceno têm sido criadas algumas narrativas, desde cosmovisões apocalípticas, até à fé da humanidade de se superar a si própria e à Natureza. De todas essas narrativas, as mais representativas são a eco-catastrofista, que advoga uma alteração profunda nos padrões de consumo e produção, e a naturalista, adepta do desenvolvimento sustentável. Entretanto, uma terceira narrativa, a pós-naturalista, tem vindo a ganhar terreno junto dos decisores políticos e empresariais. A narrativa pós-naturalista retoma a promessa iluminista através da opção por grandes projetos de geoengenharia. Os seus defensores reconhecem a ameaça que as alterações climáticas e restantes limites planetários representam para a humanidade, mas, apesar desse conhecimento, não atuam de maneira a evitar os danos que a ciência projeta para um futuro próximo. Pelo contrário, podem até agravá-los. Agem, assim, em sentido contrário ao seu melhor interesse, revelando sintomas de acrasia coletiva. É nesta moldura que a presente pesquisa se encaixa, discutindo as razões desse eventual estado coletivo acrático, patologia para a qual terá de ser encontrada uma solução.
- Influência da ecoansiedade nas propostas e ações dos jovens ativistas climáticos em contexto de acrasia coletivaPublication . Sousa Basto, RuiAs ações de desobediência civil perpetradas por coletivos de jovens ativistas climáticos são um sintoma da desesperança diagnosticada às novas gerações em resultado da crise climática. A literatura refere que os jovens adultos são os que se sentem mais afetados pela ansiedade climática ou ecoansiedade, emoção complexa que pode ser fonte de stress e tristeza. Um estudo realizado em 2021 a 10 mil jovens de dez países, entre os quais Portugal, com idades entre 16 e 25 anos concluiu que os inquiridos apresentavam sintomas de ansiedade climática e emoções angustiantes associadas ao convencimento de que os governos não atuavam sobre a crise de uma forma coerente e urgente, o que lhes causava sentimentos de traição e abandono. Nesse inquérito, quase dois terços dos jovens portugueses afirmaram que a humanidade está condenada. Estudos recentes demonstram que os jovens sofrem também de solastalgia. A nostalgia e a solastalgia são sentimentos associados à ecoansiedade. Enquanto a nostalgia corresponde a um sofrimento enraizado na ausência de um lugar significativo, remetendo para uma separação temporal e ontológica em relação ao seu objeto, a solastalgia manifesta-se como um mal-estar gerado pela permanência física de um lugar familiar que, entretanto, foi transformado de tal modo que compromete o seu reconhecimento simbólico e afetivo. Não é já a distância que fere, mas a alteração do próprio mundo vivido. Tudo isto sucede num contexto de acrasia coletiva por inação climática, em que os responsáveis políticos, económicos e financeiros sabem o que é racionalmente melhor para a humanidade, mas agem em sentido contrário a esse conhecimento. Nesta investigação procurou-se compreender a influência da ecoansiedade e da solastalgia nas propostas e ações dos jovens ativistas climáticos em contexto de acrasia coletiva.
- Migrações forçadas e alterações climáticas: a desculpa acrática da políticaPublication . Sousa Basto, RuiA generalidade da comunidade científica e das organizações ambientalistas têm alertado para a elevada possibilidade de incumprimento das metas estabelecidas no Acordo de Paris. Os responsáveis políticos em representação da quase totalidade dos Estados do planeta que subscreveram esse acordo, bem como as grandes empresas de carbono e as principais instituições financeiras mundiais, sabem que as medidas que têm sido tomadas para combater a crise climática são insuficientes. Apesar disso, agem em sentido contrário a esse conhecimento, o que sugere a eventual existência de um estado de acrasia coletiva. Para agravar o estado acrático em relação às alterações climáticas, em vez de os líderes políticos de vários países se empenharem em contribuir para um planeta que regresse num futuro tão breve quanto possível às condições do Holoceno, usam as alterações climáticas como desculpa para as migrações massivas e forçadas que afirmam terem começado. Embora a literatura identifique as alterações climáticas como uma das causas do deslocamento forçado de pessoas, também aponta para outros responsáveis. Conflitos armados, lutas internas, violações aos direitos humanos e desastres naturais são referidos como as causas principais das migrações em massa. Os projetos de desenvolvimento organizados pelos governos de vários países são também causas diretas de migração forçada. Barragens, minas, aeroportos, zonas industriais e infraestruturas de grande escala resultam frequentemente em deslocações involuntárias. Organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial também agitam a política com previsões de migrações em massa por ação climática humana, criando cenários apocalípticos com frágil ou nenhuma sustentação científica. Nesta investigação procura-se compreender em que medida a acrasia coletiva dos líderes mundiais explica o seu comportamento sobre a relação que estabelecem entre migrações forçadas e alterações climáticas.
