Browsing by Author "Franco, João Miguel"
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- 1,4-Butanediol intoxication: a case reportPublication . Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Dias, Ana Sofia; Melo, Paula; Teixeira, Helena; Franco, João MiguelGamma-hidroxibutyric acid (GHB) is an endogenous compound with known action at the neural level. Its psychoactive effects led to an illicit use context including recreational purposes, muscle building effects in bodybuilders and drugs-facilitated crimes, specifically, in sexual assaults. Besides the use of the main compound, there are precursors, like Gammabutyrolactone (GBL) and 1,4-butanediol (1,4-BD), usually non controlled substances, allowing a much easier way to obtain the target-compound. The authors present the first reported intoxication case in Portugal with 1,4-Butanediol, including the quantification of GHB and GHB-GLUC in serum, by GC-MS/MS TQD. A male, 25 years old, entered in coma at the hospital emergency room, with the suspicion of an intoxication due to an unknown liquid ingestion. The forensic toxicology lab was asked to collaborate in order to identify the possible substance(s) involved and provide adequate treatment to the patient. The suspicious liquid and a serum sample were sent by the hospital and analysed by GC-MS-single quadrupole and GC-MS/MS TQD, respectively. A methodology including protein precipitation and GC-MS/MS TQD analysis was used to detect and quantify GHB and GHB-GLUC in serum. Toxicological analysis revealed the presence of 1,4-Butanediol in the liquid and GHB [171 mg/L] and GHB-GLUC [13,7 mg/L] in serum.The victim reverted the coma state with no neurological sequelae. This was the first detected case in Portugal with 1,4-Butanediol, suggesting that it is important to be aware that consumers have different options to acess illicit compounds, such as GHB. On the other hand, GHB-GLUC was identified and quantified for the first time in a real case sample, due to intoxication. This case highlights the importance of analyzing all samples for active compounds, percursors and metabolites that can lead to the main intoxication origin.
- Administração Terapêutica de Canabidiol – Eficácia, Segurança, Qualidade? – Estudo de um casoPublication . Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Campos, Maria Graça; Franco, João MiguelIntrodução: A utilização recreativa de canabinóides é sobejamente conhecida, inserindo-se num contexto clássico do consumo ilícito de substâncias. No entanto, nos últimos anos, a utilização de alguns compostos deste grupo para fins terapêuticos passou a estar abrangida pela Lei 33/2018, de 18/07, que estabeleceu o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins medicinais. Mais tarde, em 2019, o DL 8/2019, de 15/01, procedeu à sua regulamentação. Apesar do quadro legal referido, a sua utilidade e eficácia são ainda objeto de controvérsia e discussão. Paralelamente a este enquadramento legal, encontra-se disponível em algumas lojas “óleo de cannabis”, contendo, em teoria, baixos níveis de THC, abrindo a possibilidade de consumo com fins terapêuticos, em automedicação, devido à presença de Canabidiol (CBD) na sua formulação. Neste trabalho, os autores abordam a relevância da determinação de CBD num caso de estudo envolvendo uma criança com Encefalopatia Epilética provocada por FIRES (Febrile Infection Refractory Epilepsy Sindrome) diagnosticada aos dez meses. A doente sofria inúmeras crises epiléticas por mês, associadas ao sono, sendo que o tratamento das epilepsias é, numa primeira linha de tratamento, realizado com medicamentos antiepiléticos. Paralelamente à terapêutica convencional, foi também administrado óleo de CBD. Inicialmente, o produto em causa refere que contem 3,3 mg de CBD e menos de 0,2 mg de THC/gota (toma de 4 gotas cerca de 3h antes da colheita). Meses mais tarde um segundo produto veio substituir o anterior, com 1000 mg de CBD por 10 mL e <0,2% THC (toma de 4 gotas cerca de 14h antes da colheita). Material e Métodos: O SQTF-N recebeu amostras de sangue e urina da paciente, colhidas em momentos distintos, bem como do óleo de CBD administrado, tendo por objetivo detetar a presença e quantificar canabinóides, nomeadamente, THC, 11-OH-THC, THCCOOH e CBD, por CG-MS/MS. Resultados e Discussão: No caso dos canabinoides, verificou-se a ausência de THC e de 11-OH-THC, quer no sangue, quer na urina. A amostra de sangue da 1ª colheita apresentou um valor de 15 ng/mL de CBD. A amostra de sangue da 2ª colheita apresentou valores de 10 ng/mL de CBD e de 2 ng/mL de THCCOOH. As amostras de urina resultaram negativas (LOD: 1 ng/mL). Paralelamente, a análise do antiepilético, efetuada noutro laboratório, apresentou uma dose sub-terapêutica, com prescrição de aumento da mesma nos meses subsequentes. Uma preocupação premente reside no facto de que, até à data, os três pilares de qualquer fármaco (Eficácia, Segurança e Qualidade) ainda não tem validação para os extractos de Cannabis, estejam eles sob a forma de óleos (isentos ou não de THC) ou em qualquer outra formulação que não seja medicamento, pelo que há sempre risco potencial, em especial em bebés. Paralelamente, a difusão de informação, nem sempre de origem fidedigna e cientificamente controlada, relativamente ao CBD, não contribui para uma clarificação inequívoca da eficácia do composto em contexto medicinal. Conclusões: A administração de CBD ou, em alternativa, de misturas de THC/CBD, com rácios variados, tem sido alvo de avaliação, quer em termos de eficácia terapêutica, quer em termos de surgimento de efeitos adversos. No caso em análise, os resultados obtidos sugerem a ausência de produção de THC a partir da administração de CBD. Paralelamente, o surgimento do THCCOOH na amostra com maior intervalo de tempo entre a administração e a colheita é coerente com estudos publicados por outros autores. A perceção e a compreensão de todo o mecanismo metabólico do CBD, associada a toda a ação e eficácia terapêuticas serão fulcrais para se entender a eventual valia do composto no contexto de administração terapêutica. Nesse sentido, a disponibilidade de uma metodologia analítica que permita a identificação e a quantificação inequívocas dos compostos canabinóides referidos, existente no SQTF-N, afigura-se, indubitavelmente, como uma ferramenta de utilidade inegável neste contexto.
- Aplicação do controlo de qualidade interno e avaliação de resultados em toxicologia forensePublication . Tarelho, Sónia; Castro, André Lobo; Franco, João MiguelA garantia da qualidade dos resultados do Serviço de Química e Toxicologia Forense (SQTF) do INMLCF,IP é assegurada pelo cumprimento do programa de controlo de qualidade interno (e, sempre que possível, pela participação em ensaios interlaboratoriais). O Controlo de Qualidade em laboratórios forenses constitui uma ferramenta essencial para garantir a confiança dos seus clientes. Paralelamente, enquanto laboratório forense de caráter essencialmente analítico, o seu produto corresponde à execução de ensaios laboratoriais e à correspondente emissão dos resultados obtidos. Assim, para um produto deste tipo, as ações de Controlo da Qualidade dividem-se em ações de âmbito interno (orientado para o controlo da precisão e cujos critérios dependem do laboratório) e externo (voltado para o controlo da exatidão, normalmente dependente duma intervenção externa). Este trabalho pretende abordar as ações de âmbito interno, como são os conceitos de controlo de qualidade interno e de avaliação dos resultados aplicadas a ensaios realizados por cromatografia, bem como a sua correspondente aplicação efetiva no Laboratório. O Controlo de Qualidade Interno deve definir um conjunto de mecanismos capazes de garantir a verificação da conformidade de parâmetros predefinidos para aceitação dos resultados dos ensaios e a sua metodologia deve ser adaptada aos diferentes tipos de procedimentos de ensaio. A avaliação e o correspondente cálculo dos resultados revelam-se tão importantes quanto analisar amostras representativas e executar adequadamente a técnica de análise selecionada. Avaliar e calcular corretamente os resultados e expressá-los de forma adequada tem uma influência crítica no valor probatório do resultado apresentado em cada relatório emitido. As principais medidas adotadas pelo SQTF para garantir a qualidade dos seus resultados, baseadas em referências internacionais, preveem a inclusão de controlos internos da qualidade. Paralelamente, todos os métodos analíticos possuem critérios de aceitação/rejeição de resultados, os métodos quantitativos utilizam padrões internos e os controlos são representativos da matriz das amostras a analisar. Com esta política, o SQTF pretende a manutenção da qualidade dos serviços prestados, reconhecendo o impacto que têm para a sociedade em geral e para a Administração da Justiça em particular.
- Bílis como matriz alternativa ou complementar na análise de drogas de abuso e benzodiazepinas por imunoensaios. Estudo preliminar.Publication . Dinis, Pedro; Monsanto, Paula; Mustra, Carla; Margalho, Cláudia; Frias, Eugénia; Fonte Santa, Jerónimo; Mendes, Luis; Mendonça, Ricardo; Franco, João MiguelA bílis é um fluído corporal que contribui para a purificação do fígado, sendo uma das vias de eliminação de xenobióticos e metabolitos que, uma vez presentes na bílis, são excretados nas fezes. Na ausência ou insuficiência da amostra de sangue, em situação post-mortem, a bílis pode ser colhida através da punção direta na vesícula biliar e consequente aspiração. Esta matriz é considerada uma amostra alternativa valiosa, na medida em que pode apresentar valores elevados das substâncias presentes. Objetivo: Verificar a viabilidade do uso de amostras de bílis nas análises de triagem de drogas de abuso e de benzodiazepinas por imunoensaios enzimáticos. Materiais e Métodos: A análise das amostras de bílis foi efetuada num equipamento semi-automático, EVOLIS Twin Plus System, seguindo os mesmos procedimentos do Serviço de Química e Toxicologia Forenses para as amostras de sangue. Foram usados os testes para análise de opiáceos, metabolitos da cocaína, canabinóides, anfetaminas, metanfetaminas e benzodiazepinas da OraSure Technologies, Inc. As amostras de bílis (200μl) foram diluídas com diluente forense numa proporção de 1:4. Paralelamente, nos casos possíveis, foi também analisada a amostra de sangue. Na avaliação dos resultados qualitativos sobre a presença ou ausência das substâncias a pesquisar foram usados os valores de cut-off em vigor para as amostras de sangue. Posteriormente, realizou-se a confirmação por métodos mais sensíveis e precisos, como a cromatografia de gases associada à espetrometria de massa (GC-MS) e a cromatografia líquida associada à espetrometria de massa (LC-MS-MS). Foram analisados 37 casos, 28 dos quais usámos as amostras de sangue e bílis e 9 só com amostra de bílis, por ausência de sangue. Resultados e Conclusão: Obtiveram-se resultados positivos e negativos nas amostras de bílis para drogas de abuso e benzodiazepinas, viabilizando a utilização da técnica de imunoensaios com os procedimentos do sangue. Os resultados negativos obtidos na bílis nos imunoensaios e confirmados por GC-MS ou LC-MS-MS permitem-nos concluir não haver casos de falsos negativos. Relativamente aos resultados positivos obtidos e confirmados por GC-MS ou LC-MS-MS, obtivemos confirmações positivas e negativas, concluindo-se uma possível existência de interferentes com reatividade cruzada nos imunoensaios. Concluindo, é possível a utilização da amostra de bílis para triagem de drogas de abuso e de benzodiazepinas por imunoensaios; que os resultados negativos poderão ser considerados como válidos por esta técnica e que os resultados positivos nem sempre são confirmados positivos por técnicas mais específicas. A amostra de bílis é, contudo, uma boa alternativa pois o número de resultados negativos é significativo em relação aos positivos e a sua análise por imunoensaios contribui para uma resposta mais rápida e menos onerosa para os nossos clientes, com confirmação apenas dos grupos com resultados positivos.
- Canábis Medicinal – um novo Graal?Publication . Ferreira, Joana; Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Franco, João Miguel; Domingues, PedroA Cannabis sativa e os seus sucedâneos constituem o grupo de drogas de abuso mais consumido a nível mundial. A planta contém várias moléculas, entre as quais os fitocanabinóides ?9-tetrahidrocanabinol (?9-THC) e o canabidiol (CBD), sendo que o ?9-THC tem efeitos psicoativos, ao contrário do CBD. Nos últimos anos, vários grupos de trabalho têm sugerido um potencial de ação terapêutica do CBD e do ?9-THC, tema atual e de grande controvérsia. Existem vários recetores canabinóides descritos, mas apenas quatro têm sido estudados com fins terapêuticos: os recetores canabinóides tipo 1 (CB1) e tipo 2 (CB2), o recetor inotrópico TRPV1 e o recetor de serotonina 5-HT1A. A estes recetores podem-se ligar os vários tipos de canabinóides com finalidade terapêutica, incluindo o CBD. Com este trabalho, os autores pretendem avaliar o estado da arte relativamente a este tema através de uma revisão bibliográfica. Os canabinóides têm sido utilizados como abordagem complementar aos tratamentos convencionais, quando estes falham na resposta terapêutica. Vários estudos sugerem que o CBD poderá ter propriedades terapêuticas, nomeadamente, analgésicas, anti-inflamatórias, antipsicóticas, ansiolíticas, anticonvulsivas e provocadoras de efeitos citotóxicos em células cancerígenas, sendo de notar que a sua utilização seria facilitada pela ausência de efeitos psicoativos, não estando associado ao reforço, ao desejo e à compulsividade de abuso. O CBD também atenua os efeitos metabólicos provocados pelo ?9-THC, bem como reduz alguns dos efeitos adversos, como a ansiedade, a sedação e a taquicardia, sendo benéfico no tratamento da epilepsia e da dor. Deste modo, o CBD terá papel protetor contra a danificação do cérebro provocada pelo uso de canábis recreativo e, por isso, útil no controlo da dependência. Também foi sugerido ter efeitos preventivos na quimioterapia em células do carcinoma colorretal, protegendo o DNA de danos oxidativos com o aumento da concentração de endocanabinóides. O CBD também se terá mostrado eficaz combinado com medicamentos antiepiléticos e antipsicóticos. O Sativex, constituído por ?9-THC e por CBD ativos com uma proporção de 1:1, é o único medicamento autorizado pelo INFARMED em Portugal, usado para o tratamento de espasmos musculares e dor neuropática causados pela esclerose múltipla. O verdadeiro potencial terapêutico do CBD, bem como o seu mecanismo de ação, só recentemente tem sido alvo de estudos, pelo que ainda há muita incerteza associada à sua real eficácia. Concretamente, a ação do CBD na administração conjunta com medicamentos convencionais prescritos no tratamento de determinada patologia não é, ainda, consensual. Especificando, existem dúvidas sobre se a melhoria dos sintomas se deve ao CBD, à interação droga-droga ou apenas ao medicamento convencional. Os efeitos, quer comportamentais, quer metabólicos, da interação entre o THC e o CBD também são insuficientemente compreendidos e ainda existem dúvidas sobre se a melhor terapêutica é apenas com CBD ou numa combinação de CBD com THC. Como qualquer medicamento, o CBD não é apropriado para todas as pessoas e para todas as patologias e os seus efeitos adversos devem ser considerados antes da toma destes produtos. Em Portugal, e à exceção do Sativex, os produtos de CBD são vendidos como suplementos alimentares e, consequentemente, não são controlados pelo Infarmed, quer na potência do CBD, quer no conteúdo de outros constituintes. Assim, afigura-se premente a regulamentação deste mercado, clarificando inequivocamente o contexto terapêutico, diferenciando-o de todos os outros.
- Cannabis: Comparação entre os relatórios internacionais e a casuística do SQTF no período 2009-2023Publication . Castañera, Antonio; Simões, Susana; Franco, João MiguelOs últimos relatórios publicados pelo EMCDDA (European Monitoring Centre for Drugs and Drugs Addiction) Europol e UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime) confirmam que a cannabis é droga de abuso mais popular no mundo nas suas duas principais formas: marijuana (folhas e flores secas) e haxixe (resina). Atualmente, estimase que existe produção de cannabis em 190 países. Nesse sentido, os últimos estudos revelam que na União Europeia existem 84 milhões de pessoas (entre 15 e 64 anos) que tem experimentado cannabis alguma vez na vida. Outro fator a ter em conta é o aumento da potencia (quantidade de THC presente na cannabis) registado no período 2011-2021 (+57% na marijuana e +200% no haxixe). O principal objetivo deste trabalho é comparar as tendências registadas nos últimos relatórios internacionais com os dados toxicológicos obtidos no período 2009-2023 no Serviço de Química e Toxicologia da Delegação do Sul do INMLCF,IP. Os principais tópicos e indicadores analisados serão: prevalência de amostras positivas, a distribuição de THC e os seus principais metabolitos (THC-COOH e 11-OH-THC); concentração media de THC detetada no período de tempo analisado; distribuição de amostras positivas por género e idade; gama de concentrações detetadas; associações com outras drogas (incluindo o etanol); THC vs CBD.
- Casos positivos de cocaína no Serviço de Química e Toxicologia Forenses da Delegação do Centro: análise comparativa entre 2018 e 2023Publication . Margalho, Cláudia; Dinis, Pedro; Monsanto, Paula; Frias, Eugenia; Franco, João MiguelO Relatório Europeu sobre Drogas 2024, publicado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), oferece uma visão abrangente sobre o estado atual do consumo de drogas na Europa, incluindo a cocaína. Esta substância é a segunda droga ilícita mais consumida na Europa, com sinais crescentes de que a sua elevada disponibilidade continua a ter um impacto negativo na saúde pública europeia. Assim, a análise da evolução dos casos positivos de cocaína é essencial para compreender as tendências do consumo dessa substância e as suas implicações na saúde pública. O Serviço de Química Toxicologia Forenses (SQTF) do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P. (INMLCF, I.P.) desempenha um papel crucial na realização de estudos toxicológicos de drogas de abuso, sendo uma importante fonte de dados para análises ao longo do tempo. Este estudo teve como objetivo realizar uma análise evolutiva dos casos positivos de cocaína na Delegação do Centro (SQTFC) ao longo dos últimos seis anos. Foi efetuada uma compilação dos casos positivos de cocaína do SQTF-C entre 2018 e 2023, tendo em consideração a entidade requisitante, o género e a idade dos indivíduos. Observou-se um crescimento linear ao longo destes seis anos, impulsionado principalmente pelos casos relacionados com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR). No entanto, entre 2020 e 2022, houve um ligeiro decréscimo no número de casos positivos, provavelmente influenciado pela pandemia de COVID-19 e pelas medidas de confinamento. Na análise por género, constatou-se uma clara tendência de maior consumo de cocaína entre homens, com uma prevalência a variar entre 81% e 94%. Em relação à distribuição por faixa etária, 85% dos casos ocorreram em indivíduos entre 18 e 50 anos (299 casos), com uma incidência de 53% no intervalo dos 18 aos 35 anos. Este estudo fornece dados toxicológicos importantes sobre os padrões de consumo de cocaína na região Centro do país nos últimos seis anos, tendo em conta as limitações impostas pelo confinamento. As informações fornecidas pelos dados toxicológicos forenses são fundamentais para contribuir para uma melhor compreensão sobre os padrões de consumo de drogas, identificando quais as substâncias que estão a ser consumidas e em que combinações.
- Chemsex: nem sempre com um final feliz... morte por intoxicação com GHB e CocaínaPublication . Castro, André Lobo; Simón, Antia; Tarelho, Sónia; Ribeiro, Cristina; Franco, João Miguel"Chemsex" tornou-se um problema sério de saúde pública no contexto médico-legal. É sabido que a sua prática envolve um elevado grau de risco para os consumidores, incluindo contextos de intoxicação aguda. No caso apresentado, a vítima do sexo feminino foi encontrada inconsciente pelo seu parceiro. Ambos perderam a consciência no seguimento do consumo de um líquido após o jantar, num parque de estacionamento conhecido por ser um local procurado para a realização de encontros casuais de cariz sexual. Após a autópsia, a análise toxicológica detetou a presença na amostra de sangue total de GHB, cocaína, ecognina metilester, benzoilecgonina e THCCOOH. A avaliação da informação e dos dados recolhidos levou a concluir que a morte se deveu a uma intoxicação por uma mistura de GHB e cocaína. Este caso releva a necessidade de se considerar e avaliar toda a informação obtida na cena, nomeadamente a informação testemunhal. Por outro lado, este caso revela também que a utilização de diferentes substâncias, isoladas ou misturadas, continua a ser praticada com fins de aumento de performance sexual, se bem que nem sempre com um final feliz.
- Comparação da extração em fase sólida com a precipitação proteica na determinação de canabinóides em amostras de sangue totalPublication . Martinho, Beatriz; Teixeira, Helena M.; Franco, João Miguel; Real, F. Corte; Proença, PaulaIntodução: Em toxicologia forense, é essencial ter um método rápido e eficiente que permita usar uma pequena quantidade de amostra biológica para determinação e quantificação de baixas concentrações de canabinóides. A extração em fase sólida (SPE) tem sido uma das técnicas extrativas mais utilizadas no laboratório do Serviço de Química e Toxicologia Forenses (SQTF) na confirmação e quantificação de canabinóides, estando este procedimento acreditado. No entanto, importa sempre procurar metodologias analíticas que possam apresentar mais vantagens e suprimir aspetos menos satisfatórios, como por exemplo, custos, processos laboriosos, entre outros. Neste sentido, a introdução da precipitação proteica como técnica extrativa na rotina laboratorial pode demonstrar-se uma mais valia para o SQTF. Material e Métodos: No procedimento extrativo em amostras de sangue foi utilizada a técnica de SPE com 0,5 mL de amostra e a de precipitação proteica de 0,1 mL de sangue, para a determinação de ∆9-tetrahidrocanabinol (THC), 11-hidroxi-∆9-THC (THC-OH) e 11-nor-9-carboxi-∆9-THC (THC-COOH). A análise cromatográfica foi realizada por cromatografia líquida de alta resolução acoplada a espetrometria de massa (LC-MS/MS) nos dois equipamentos existentes no SQTF da Delegação do Centro. Na separação cromatográfica foi utilizada uma fase móvel constituída por formato de amónia aquoso 2mM (ácido fórmico 0,1 %) e metanol, em modo gradiente, com um fluxo de 0,4 mL/min e uma coluna Acquity UPLC HSS® T3 quer no equipamento da marca Waters quer no equipamento da marca Sciex. Resultados e Discussão: No equipamento da Waters, a precipitação proteica demonstra não influenciar de forma significativa a intensidade e área dos picos, bem como o ruído de fundo quando comparado com os resultados obtidos por extração em fase sólida. No equipamento da Sciex, as amostras preparadas por precipitação proteica apresentam maior intensidade, maior área e menor ruído do que as amostras preparadas por extração em fase sólida, dada a otimização dos parâmetros cromatográficos. Os autores apresentam também os resultados da validação do procedimento extrativo por precipitação proteica e análise por LC-MS/MS, no equipamento da marca Sciex. Conclusões: A substituição da técnica de extração em fase sólida de 0,5 mL de amostra pela de precipitação proteica de 0,1 mL de sangue no procedimento laboratorial de confirmação e quantificação de canabinóides, torna-o mais simples, rápido e com um menor custo associado. O método validado demonstrou ser seletivo, específico, exato, preciso, robusto e linear na gama de trabalho, cumprindo todos os critérios de aceitação estabelecidos para a análise de canabinóides em amostras de sangue por LC-MS/MS.
- Consumo de álcool e drogas ilícitas e suas associações com acidentes fatais de viação na Região Norte de PortugalPublication . Santos, Fabiana; Castro, André Lobo; Sousa, Lara; Quintas, Maria José; Melo, Paula; Costa, Pedro; De Martinis, Bruno; Tarelho, Sónia; Rangel, Rui; Franco, João MiguelIntrodução: É do conhecimento geral que o consumo de álcool e drogas aumenta o risco de envolvimento em acidentes de viação com vítimas fatais. Demonstrar a ocorrência dessas associações numa população permite conhecer a realidade desse cenário e desenvolver medidas de prevenção e controlo desses eventos. O presente estudo teve como objetivo verificar a presença de associação entre acidente de viação e a positividade dos resultados para álcool e drogas ilícitas nas amostras de sangue post-mortem de condutores da região Norte de Portugal. Metodologia: como fonte de dados, foi utilizado o sistema STARLIMS, no qual foram selecionados processos provenientes do Serviço de Clínica e Patologia Forenses da Delegação do Norte do INMLCF, I.P., relativos ao período entre Janeiro de 2014 e Junho de 2018. Foram incluídos, no estudo, apenas os processos com requisição para pesquisa concomitante de álcool e drogas de abuso. O grupo classificado como exposto a determinada substância (drogas ou álcool) foi constituído por processos que apresentaram amostra de sangue com resultado positivo no respetivo ensaio de confirmação, enquanto o grupo não exposto foi constituído por processos que apresentaram resultado negativo nos ensaios de rastreio ou de confirmação. A informação do estatuto de condutor no evento “acidente de viação” foi obtido no sistema, na secção que descreve a provável etiologia médico-legal. Para verificar a associação entre a ocorrência de acidentes de viação com condutores (variável dependente) e a exposição às drogas ilícitas (canabinoides, cocaína, heroína e anfetaminas ilícitas) e ao álcool (variáveis independentes) foi realizada a regressão logística multivariada com o método de seleção automática das variáveis denominado backward. Para avaliar a adequação do modelo de regressão logística proposto foi realizado o teste de Hosmer & Lemeshow e a determinação da área sob a curva da curva ROC. O programa estatístico utilizado foi o MedCalc versão 16.4.3. Resultados: Dos 4300 casos incluídos neste estudo, 197 (4,5%) foram de condutores envolvidos em acidentes fatais de viação, enquanto que os demais 4103 casos (95,5%) apresentaram outras etiologias de causa de morte (homicídios, suicídios, acidente doméstico, etc). Destes 197 condutores, quase metade (95/197 ou 48,2%) apresentaram resultado positivo em amostras de sangue para alguma substância (etanol e/ou drogas de abuso), sendo que 87 (44,2%) para álcool e 17 (8,6%) para canabinoides. Entre os condutores, não houve resultados positivos para heroína, cocaína e anfetaminas ilícitas. A ocorrência de acidentes de viação com esses condutores associou-se com a positividade dos resultados para análise de álcool (P<0,0001; Odds ratio= 2,2068; IC 95%=1,6509-2,9497) e para canabinoides (P=0,0140; Odds ratio= 1,9254; IC 95%=1,1418-3,2469). Assim, condutores sob efeito de álcool apresentaram 2,2 vezes mais chances de se envolverem em acidentes fatais quando comparado com o grupo não exposto, enquanto os condutores expostos aos canabinoides apresentaram 1,9 mais chances de se envolverem em acidentes fatais quando comparado com o grupo controlo. O modelo de regressão proposto, com duas variáveis independentes, apresentou uma adequação aceitável (P=1 e AUC = 0,599). Conclusão: Foram observadas altas prevalências de exposição ao álcool em condutores envolvidos em acidentes fatais de viação na região norte do País. A presença de associação entre a ocorrência de acidentes de viação fatais com condutores e uso de canabinoides e álcool, com destaque para uma maior associação para este último, corrobora os resultados descritos na literatura.