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- Metodologias para preparação e extração de ADN de fragmentos humanos antigos: uma revisão preliminarPublication . Franco, Magda; Correia Dias, Helena; Balsa, Filipa; Serra, Armando; Afonso Costa, Heloísa; Nascimento, Rui; Corte Real, Francisco; Cainé, Laura; Amorim, AntónioO Laboratório de ADN Antigo do Serviço de Genética e Biologia Forenses da Delegação do Centro do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) tem como objetivo, entre outros, analisar fragmentos humanos antigos (ossos e dentes). Pretende assim, através de análises genéticas, contribuir para estudos relacionados com a evolução de populações antigas humanas, assim como a sua relação com a população atual. A reduzida quantidade de ADN e o elevado nível de degradação são dois dos desafios mais comuns quando se trabalha com ADN antigo (aDNA). É crucial diferenciar o ADN exógeno do aDNA autêntico, visto que estas amostras estão sujeitas a contaminações ambientais e humanas. Tendo em conta a pouca qualidade esperada das amostras, será mais eficaz o estudo do ADN mitocondrial (mtDNA) do que do ADN nuclear, já que o mtDNA está presente nas células num maior número de cópias e apresenta uma configuração molecular circular fechada, que resulta numa maior proteção. Por outro lado, como este ADN é herdado apenas por via materna, o seu estudo não é muito utilizado nas identificações individuais, mas é uma fonte importante de ADN para realizar estudos populacionais, sendo que nos permite obter informações sobre as linhagens maternas dos indivíduos. De acordo com a literatura, os métodos de pré-processamento usados antes da extração de ADN podem afetar a autenticidade e a quantidade de ADN obtido. Várias técnicas de pré-tratamento são utilizadas atualmente, tais como, limpeza da superfície do osso com lixívia, seguido de limpeza com água e, por fim, com etanol. Também é utilizada luz UV para garantir que o ADN extraído será autêntico e não de fontes exógenas. Em análises forenses, os dentes e ossos são normalmente reduzidos a pó para a extração de ADN. Tem sido também demonstrado que é possível obter bons resultados com um método diferente -"scrapping"-, sendo que esta técnica preserva melhor a amostra. No entanto, é necessário avaliar a idade, o estado e o nível de degradação do osso/dente, sendo que amostras frágeis podem ser quebradas facilmente, mesmo com este método. Na fase de extração, existem vários métodos que podem ser usados: métodos baseados em colunas (rápidos,mas produzem pouca quantidade de ADN); e métodos baseados em sílica, precipitação e microfiltros (demorados e trabalhosos, mas produzem melhores resultados). Também existe o método de fenol-clorofórmio (ainda de referência e utilizado por vários anos), que é trabalhoso e envolve riscos para o operador. Em suma, é importante fazer uma revisão dos métodos mais adequados para o tratamento e extração destas amostras difíceis, tendo em conta a manutenção da integridade das mesmas, para que possam ser utilizadas em investigações futuras ou expostas em museus. Assim, esta revisão serve como um primeiro passo para a implementação das metodologias mais adequadas para a obtenção de aDNA autêntico de restos humanos antigos para estudos futuros no Laboratório de ADN Antigo do INMLCF.
- ADN antigo: perspetivas e desafiosPublication . Correia Dias, Helena; Franco, Magda; Balsa, Filipa; Serra, Armando; Afonso Costa, Heloísa; Nascimento, Rui; Corte Real, Francisco; Cainé, Laura; Amorim, AntónioO DNA antigo (aDNA) pode ser uma fonte crucial de informação para estudos sobre a evolução e história das populações, revelando aspetos importantes, como migrações e interações humanas. Desde o primeiro estudo baseado no isolamento de aDNA, em 1984, novos desafios e oportunidades surgiram na área. Ao longo dos anos, com as melhorias técnicas nos métodos de extração de ADN e a emergência de novas metodologias de sequenciação de alto rendimento, como massive parallel sequencing, foram também impulsionadas novas perspetivas neste campo. Os restos humanos antigos, provenientes de escavações arqueológicas e de coleções museológicas, podem ser difíceis de analisar, principalmente devido à contaminação por ADN moderno, à degradação e exiguidade do aDNA, à contaminação laboratorial, ao armazenamento incorreto, às condições ambientais, entre outros. Além disso, apesar de muitos métodos de pré-tratamento terem sido propostos, poucos estudos relatam a preservação da estrutura e integridade do espécime. Os ossos e dentes são, muitas vezes, a única evidência da existência de um indivíduo ou população e devem ser analisados, mas essencialmente preservados. A análise de aDNA consiste, resumidamente, na preparação da amostra (usando, preferencialmente, um método não invasivo), extração de ADN, quantificação de ADN, PCR e sequenciação. O processo de preparação da amostra é determinante devido às características particulares do aDNA, como a baixa quantidade e a extensa degradação. Uma das questões mais importantes é a autenticidade do aDNA, sendo essencial minimizar o risco de contaminação por ADN moderno. Na extração de ADN, considerando amostras museológicas, é necessário selecionar um método não destrutivo, seguido de um método de quantificação preciso, que permita também otimizar a extração e detectar inibidores da PCR. A PCR deve também ter características específicas, comparando com a amplificação tradicional. Uma PCR dividida em dois passos é essencial para ultrapassar os artefactos do aDNA degradado. É aconselhável fazer múltiplas reações de PCR da mesma amostra e depois sequenciar as réplicas por sequenciação de Sanger. Após alinhamento e comparação das múltiplas sequências, a sequência de interesse é obtida. Recentemente, o Serviço de Genética e Biologia Forenses da Delegação do Centro (SGBF-C) do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) criou um Laboratório de ADN Antigo com o objectivo principal de estudar amostras arqueológicas com diferentes intervalos post-mortem. Considerando que a análise de aDNA desempenha um papel crucial nos estudos arqueológicos e paleogenómicos, o objectivo da presente comunicação é divulgar e partilhar na comunidade científica o nosso novo Laboratório de ADN Antigo do INMLCF e mostrar o seu potencial para a expansão da investigação em aDNA, sendo que este laboratório está integrado num projecto científico que estuda comunidades da pré-história recente, na região centro de Portugal (MEDICE II).
- SARS-COV-2 Variants in the region of Lisbon: Comparation and validation study between RT-PCR and NGS methodologiesPublication . Franco, Magda; Cainé, Laura; Rodrigues, Joana; Mofreita, Vânia; Nascimento, Rui; Mukan, Olena; Fadoni, Jennifer; Corte-Real, Francisco; Amorim, AntónioSARS-CoV-2 is a recent coronavirus that appeared in the end of 2019. The World Health Organization named the infection, caused by this new coronavirus, Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). This disease was considered a pandemic on March 11th 2020 by the same organization. Coronaviruses rapidly acquire new mutations and, consequently, new variants keep emerging. There are some variants with an associated risk in the increase of the transmissibility and that cause more severe disease and reduction in the neutralization by antibodies and, for this reason, are called variants of concern. The aim of this project was to identify the main VOCs and VOIs circulating in the region of Lisbon, applying the methodology of real time RT-PCR in cadavers that tested positive for SARS-CoV-2. To meet this goal, we used three assays: Allplex™ SARS-CoV-2 Variants I, Allplex™ SARS-CoV-2 Variants II and Allplex™ SARS-CoV-2 Variants V. The first one detects defining mutations of the Alpha, Beta and Gamma variants (N501Y, E454K and HV69/70del), the second assay detects mutations present in the Delta, Beta, Gamma and California variants (L452R, K417T, K417N and W152C) and the third one detects defining mutations of the Delta and Lambda variants (L452R, P681R, L452Q and F690S). In addition, we also wanted to understand if these RT-PCR assays were efficient to correctly identify these variants, comparing the results obtained to the reference methods for the determination of variants – Next Genration Sequencing (NGS). Two different NGS methodologies were used to compare the results – NGS-ONT (Oxford Nanopore Technologies) and NGS-Sanger based. We concluded that 30% of the samples belonged to the Alpha variant and 70% belonged to the Delta variant and that, in general, the three RT-PCR assays applied in this study were efficient in correctly identifying these two variants, based on the comparison to the NGS results.
- Sexually Transmitted Infections: Usefulness of Molecular Methods for Microorganism Detection in Stored Sexual Assault SamplesPublication . Cainé, Laura; Eiras, Ana; Fadoni, Jennifer; Franco, Magda; Correia Dias, Maria Helena; Amorim, AntónioSexual assault is a global public health and human rights concern, with serious physical, psychological and reproductive consequences for survivors. Among these, sexually transmitted infections are particularly relevant due to their frequently asymptomatic nature and potential for long-term complications. The detection of sexually transmitted infections in forensic settings is crucial for clinical management of victims and for evidentiary support in forensic sexual crimes investigations. This study aimed to evaluate the applicability of real-time polymerase chain reaction for detecting Chlamydia trachomatis, Trichomonas vaginalis, Neisseria gonorrhoeae, and Treponema pallidum in biological samples collected from victims of sexual assault and stored under routine forensic conditions, in some cases, for up to 18 years. A total of 231 swabs from 116 individuals collected between 2004 and 2017 were analysed using real-time PCR with pathogen-specific primers and fluorescent probes. The analysis revealed 13 positive samples of T. vaginalis (5.6%) and 11 of C. trachomatis (4.8%). No positive results were obtained for N. gonorrhoeae or T. pallidum. These findings demonstrate the usefulness of real-time polymerase chain reaction for detecting sexually transmitted infections in long-term preserved forensic samples. Moreover, the ability to identify pathogen DNA in archived samples highlights the potential role of molecular diagnostics in the retrospective investigation of sexual crimes, including cold cases. It underscores the value of molecular methods as a complementary tool in forensic proceedings and survivor care.
- Vigilância da Influenza A, Influenza B e do Vírus Sincicial Respiratório nos cadáveres provenientes dos serviços médicolegais em PortugalPublication . Rodrigues, Joana; Franco, Magda; Mofreita, Vãnia; Correia Dias, Maria Helena; Balsa, Filipa; Cainé, Laura; Amorim, AntónioIntrodução Os vírus respiratórios são responsáveis por numerosas doenças infeciosas que afetam milhões de pessoas todos os anos. Entre estes, encontram-se o vírus da Influenza A, o vírus da Influenza B e o vírus Sincicial Respiratório (RSV - respiratory syncytial virus), que podem causar uma variedade de sintomas respiratórios, desde simples infeções respiratórias a pneumonias letais. As principais epidemias sazonais nos seres humanos ocorrem especialmente no inverno e são causadas pelos vírus da Influenza A e da Influenza B, sendo que a maioria das infeções ocorre em crianças e idosos. O RSV é a principal causa de doenças do trato respiratório inferior, em crianças pequenas, com menos de dois anos de idade. O diagnóstico é feito essencialmente por testes moleculares, detetando o RNA viral com técnicas de PCR (polymerase chain reaction) a partir de amostras respiratórias. Material e Métodos O Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF) assegura o diagnóstico laboratorial dos vírus da Influenza A, Influenza B e RSV, nos cadáveres que dão entrada para autópsia médico-legal, utilizando métodos moleculares. Neste estudo, reunimos informação sobre as análises de Real-Time PCR (RT-PCR) efetuadas pelos Laboratórios de Análises Clínicas e Médico-Legais (LAC-ML) do INMLCF. A extração de RNA (ribonucleic acid) em amostras de exsudados nasofaríngeos foi realizada utilizando o kit de extração de vírus EZ1 DSP (QIAGEN) e, em seguida, foi realizado o ensaio de RT-PCR utilizando um kit multiplex específico para detetar os vírus da Influenza A, Influenza B e RSV. As amostras foram colhidas entre maio de 2022 e maio de 2025. Resultados e Discussão Neste estudo foram testadas um total de 1556 amostras. O vírus da Influenza A foi detetado em 23 indivíduos de Lisboa, Vila Franca de Xira, Évora, Setúbal e Porto. O vírus da Influenza B foi detetado em 4 indivíduos do Porto, Baixo Vouga e Dão-Lafões. Por fim, o RSV foi detetado em 7 indivíduos provenientes de Lisboa, Évora, Setúbal e Porto. Estes resultados positivos foram detetados entre dezembro de 2023 e maio de 2025. Conclusões Os nossos resultados são reportados ao Instituto Nacional de Saúde Pública (INSA), no âmbito do estudo epidemiológico da gripe e outros vírus respiratórios. A vigilância constante dos vírus respiratórios é de extrema importância, e este estudo é um contributo para o panorama epidemiológico em Portugal, entre 2022 e 2025. O estudo de amostras de cadáveres para a presença do vírus Influenza A, Influenza B e RSV permite um melhor rastreio da sua presença na população.
- Laboratório de análises clínicas e médico-legais do INMLCF: a norma de acreditação aplicávelPublication . Cerqueira, Joana; Fadoni, Jennifer; Shastakova, Alena; Magalhães, Jéssica; Rodrigues, Joana; Mofreita, Vânia; Franco, Magda; Correia Dias, Maria Helena; Balsa, Filipa; Amorim, AntónioA harmonização da acreditação em todo o mundo é essencial para garantir a confiança nos certificados emitidos por organismos de avaliação de conformidade locais (no caso de Portugal, o Instituto Português de Acreditação, IPAC), por parte dos reguladores, consumidores, pacientes e outras partes interessadas que utilizam os resultados dessa avaliação a nível internacional. Este processo inicia-se com a seleção da norma de acreditação mais adequada para uma área de atividade específica. É comum, que para laboratórios de análises clínicas, a EN ISO 15189 seja a norma de referência aplicável, a qual se foca no melhor interesse do paciente, garantindo a obtenção de resultados que promovam um diagnóstico e tratamento, o mais adequados possível. No entanto, e apesar da especificidade da área de atuação do Laboratório de Análises Clínicas e Médico-Legais (análises clínicas), foi considerado pela European Accreditation (EA - associação de organismos nacionais de acreditação por toda a Europa), que todas ciências forenses, em geral, se deveriam regular por uma norma de acreditação única, independentemente da área de atuação em que as várias ciências forenses possam ser integradas. Ficou decidido, por indicação da EA e aceite pelo IPAC, que a norma mais adequada para a acreditação de todas as ciências forenses seria a norma EN ISO/IEC 17025 em todos os laboratórios forenses, onde se inclui o Laboratório de Análises Clínicas e Médico-Legais (LACML) do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF). Considera-se que os resultados nestes casos, não visam o tratamento de um paciente, mas sim uma análise forense com finalidade de inspeção. Nestes casos, não haverá nem um diagnóstico, nem um tratamento dependente destes resultados. Mesmo assim, e à semelhança do que acontece em outros laboratórios de análises clínicas, todos os métodos devem ser plenamente documentados, incluindo procedimentos para o controlo de qualidade implementado, assim como validados laboratorialmente, para confirmar a sua adequação ao uso pretendido. Um dos principais objetivos a curto prazo do LACML do INMLCF, é incluir no âmbito da acreditação pela norma EN ISO/IEC 17025, alguns dos métodos/exames realizados no laboratório, mas sempre considerando uma harmonização com a atividade dos laboratórios clínicos em geral e uma melhoria científica contínua, para ser comparável aos seus pares, apesar da norma de referência aplicável no processo de acreditação, ser distinta.
- Deteção de infeções sexualmente transmissíveis -contributo do LAC-ML no contexto de agressões sexuaisPublication . Fadoni, Jennifer; Mofreita, Vânia; Rodrigues, Joana; Franco, Magda; Shastakova, Alena; Magalhães, Jéssica; DE SOUSA MAGALHÃES, JÉSSICA; Correia Dias, Maria Helena; Balsa, Filipa; Cainé, Laura; Amorim, AntónioIntrodução: Os crimes de natureza sexual constituem um grave problema de saúde pública, com elevada prevalência, particularmente entre mulheres, e possíveis consequências físicas, psicológicas e reprodutivas para os sobreviventes. Entre estas, as infeções sexualmente transmissíveis (IST) assumem particular relevância, tanto pelo seu caráter frequentemente assintomático como pelo potencial de causar complicações a longo prazo. A deteção de IST em contextos de agressão sexual é crucial não só para a adequada gestão clínica das vítimas, como também para fornecer suporte probatório no âmbito da investigação criminal. Objetivos: Foram analisadas amostras colhidas no âmbito de casos de possíveis agressões sexuais, com o objetivo de detetar a presença de IST. Material e Métodos: Foram analisadas 59 amostras biológicas incluindo soro sanguíneo (n=49), urina (n=5), e exudados vaginal (n=1), vulvar (n=1), anal (n=1), cervical (n=1) e perianal (n=1), nas quais foram pesquisadas a presença de Chlamydia trachomatis (IgG, IgM, DNA), Neisseria gonorrhoeae (IgG, IgM, DNA), Trichomonas vaginalis (IgG, IgM, DNA), Treponema pallidum (IgG, IgM, DNA), Ureaplasma urealyticum e Ureaplasma parvum (DNA), Mycoplasma hominis e Mycoplasma genitalium (DNA), HIV 1/2 (Ac Totais, Ag p24, RNA), Hepatite B (Ag HBs, Ac HBs, Ac totais, IgM HBc), Hepatite C (IgG), Papiloma virus humano (IgG), Herpes-virus simplex tipo 2 (IgG, IgM), de acordo com o solicitado pela entidade requisitante. Resultados e Discussão: Os indivíduos analisados possuíam idades entre 12 e 72 anos. Todas as supostas vítimas eram do sexo feminino (22 amostras), enquanto 36 amostras eram provenientes de agressores do sexo masculino e 2 do sexo feminino. Nos supostos agressores, foi detetada C. trachomatis (IgG) em 1 indivíduo do sexo feminino e 3 do sexo masculino, incluindo em um desses a deteção de T. pallidum (IgG); e HIV 1/2 (Ac Totais) em 1 indivíduo do sexo masculino. Entre as alegadas vítimas, foi detetada C. trachomatis (DNA) em uma mulher de 73 anos de idade; e Hepatite B, (Ag HBs) numa jovem de 12 anos de idade, sugerindo uma infeção ativa. Estes achados reforçam a importância da investigação laboratorial em casos de alegada agressão sexual, e reforçam a sensibilidade dos métodos utilizados, que permitem a deteção de agentes infeciosos mesmo em indivíduos assintomáticos. Conclusões: A deteção laboratorial de IST em contexto forense revela-se fundamental na abordagem integrada a vítimas de violência sexual, permitindo não só um acompanhamento clínico mais eficaz, como também a produção de informação relevante para fins judiciais. O papel dos laboratórios forenses, como o Laboratório de Análises Clínicas e Médico-Legais (LAC-ML), é determinante na resposta coordenada às agressões sexuais, promovendo uma abordagem baseada em evidência científica, respeito pela vítima e suporte à justiça. Reforça-se, assim, a necessidade de protocolos bem definidos e da capacitação contínua dos profissionais envolvidos neste tipo de perícias.
- Infeções Sexualmente Transmissíveis: deteção molecular de microrganismos em amostras colhidas no âmbito de crimes sexuaisPublication . Eira, Ana; Correia Dias, Maria Helena; Franco, Magda; Fadoni, Jennifer; Amorim, António; Cainé, LauraIntrodução: Os crimes sexuais constituem um dos maiores desafios da Medicina Legal, tanto pela complexidade técnico-científica envolvida como pela sensibilidade das situações. Na maioria dos casos, as análises forenses concentram-se na identificação genética do agressor. Contudo, a deteção de infeções sexualmente transmissíveis (ISTs) nas amostras biológicas recolhidas pode fornecer evidência complementar de elevado valor probatório, permitindo sustentar a existência de contacto sexual e, simultaneamente, assegurar o adequado encaminhamento clínico da vítima. O presente estudo teve como objetivo aplicar a técnica de PCR em tempo real (RT-PCR) para a deteção de microrganismos responsáveis por ISTs, a partir de amostras colhidas a vítimas de agressão sexual. Material e métodos: Analisaram-se 231 amostras biológicas (zaragatoas vaginais, retais e orais) colhidas entre 2004 e 2017 e armazenadas a -20ºC. A deteção e amplificação do material genético foi realizada através de RT-PCR, utilizando primers específicos para os principais agentes etiológicos de ISTs: Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, Trichomonas vaginalis e Treponema pallidium. Resultados e discussão: Foram detetados 11 casos positivos para Chlamydia trachomatis e 13 para Trichomonas vaginalis. A técnica de RT-PCR revelou-se útil na deteção de DNA de microrganismos responsáveis por ISTs mesmo em amostras antigas e degradadas. A robustez desta técnica é pode ser especialmente útil quando a evidência biológica disponível é escassa ou comprometida. A ausência de deteção de Neisseria gonorrhoeae e Treponema pallidium poderá dever-se à sua menor prevalência na população estudada ou a limitações associadas à degradação das amostras, devido ao tempo de armazenamento e também ao facto de nem todos os microrganismos, mesmo existindo a IST, terem uma distribuição e/ou localização com igual padrão. Os resultados confirmam a utilidade das metodologias moleculares na deteção de microrganismos responsáveis por ISTs como complemento à identificação genética humana, contribuindo para caracterizar o tipo de contacto sexual e apoiar o encaminhamento clínico da vítima. A deteção de ISTs pode ainda constituir prova adicional com relevância jurídica, sobretudo em casos com transmissão comprovada. A aplicação eficaz da técnica a diferentes tipos de amostras (vaginais, retais e orais) reforça o seu valor no em contexto forense. Conclusão: A técnica de RT-PCR demonstrou ser uma ferramenta valiosa na análise de amostras forenses no âmbito de crimes sexuais, contribuindo para a o encaminhamento da vítima. A sua integração nos protocolos forenses para crimes sexuais deve ser considerada uma mais-valia.
- Vigilância do SARS-CoV-2 em cadáveres sujeitos a autópsia médico-legal em PortugalPublication . Shastakova, Alena; Fadoni, Jennifer; DE SOUSA MAGALHÃES, JÉSSICA; Cerqueira, Joana; Balsa, Filipa; Franco, Magda; Mofreita, Vânia; Correia Dias, Maria Helena; Cainé, Laura; Amorim, AntónioA microbiologia forense desempenha um papel essencial no diagnóstico de causas infeciosas de mortes súbitas ou inexplicadas. Com a pandemia de COVID-19, tornou-se evidente a necessidade de estudos post-mortem para aprofundar o conhecimento sobre a epidemiologia viral, com especial enfoque no SARS-CoV-2. Ao contrário de outros vírus respiratórios, o SARS-CoV-2 não apresenta um padrão estritamente sazonal, embora flutuações nos casos sugiram ondas intermitentes de transmissão, influenciadas pelos níveis de imunidade adquirida e pelo comportamento humano. O vírus apresenta um amplo espectro clínico, desde casos assintomáticos até pneumonia grave e síndrome de desconforto respiratório agudo. O objetivo desse trabalho foi determinar a prevalência do SARS-CoV-2 em zaragatoas nasofaríngeas colhidas post-mortem, antes da execução autópsias forenses realizadas entre abril de 2024 e abril de 2025. No total, foram testadas 1223 amostras para SARS-CoV-2. Antes do processamento, as amostras permaneceram em banho seco a 56 °C durante 30 minutos para a inativação de possíveis patógenos. O RNA foi extraído por via automatizada com o kit EZ1 DSP Virus (QIAGEN) e por extração térmica — aquecimento a 100 °C durante 8 minutos. A reação de PCR em tempo real teve como alvo os genes N1 e E do vírus e o gene humano RPP30/RNase P como controlo interno de fiabilidade. Foram utilizadas sondas marcadas com fluoróforos para deteção dessas regiões genómicas. Valores de Ct inferiores a 35 foram considerados positivos, amostras com Ct entre 35 e 40 foram re-analisadas. Das 1223 amostras testadas, 22 (1,8%) foram positivas para SARS-CoV-2, com idades dos indivíduos a variar entre os 21 e os 98 anos. Distribuição mensal dos casos positivos: abril - 0, maio - 1, junho - 3, julho - 4, agosto - 5, setembro - 3, outubro - 4, novembro - 0, dezembro – 2, janeiro - 1, fevereiro - 0, março - 0. A taxa de deteção de 1,8% de SARS-CoV-2 destaca o impacto contínuo na saúde pública. A ampla faixa etária dos casos demonstra a sua persistente transmissibilidade. A vigilância post-mortem permite identificar casos não diagnosticados em vida, contribuindo para uma melhor compreensão da circulação viral e para a definição de políticas de saúde pública. O rastreio forense reforça as medidas de segurança dos profissionais envolvidos em autópsias e apoia estratégias de gestão de surtos baseadas em evidência. A vigilância post-mortem constitui uma ferramenta essencial para acompanhar a prevalência do SARS-CoV-2. As taxas de deteção observadas neste estudo evidenciam o impacto do vírus em Portugal entre abril de 2024 e abril de 2025. A integração da microbiologia forense na vigilância epidemiológica fortalece a monitorização viral, melhora a preparação em saúde pública e apoia decisões informadas na gestão de surtos.
- Drop-outs alélicos: implicações nas perícias médico-legaisPublication . Franco, Magda; Correia Dias, Helena; Coimbra Serra, Armando; São Bento, Marta; Corte Real, Francisco; Cainé, Laura; Amorim, AntónioO perfil genético de um indivíduo constitui uma ”impressão digital” genética, sendo obtido através da análise de regiões específicas do ADN que apresentam elevada variabilidade entre indivíduos. No Serviço de Genética e Biologia Forenses do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, o perfil genético é determinado com recurso à análise de marcadores constituídos por sequências curtas e repetitivas de ADN designadas por Short Tandem Repeats (STR). O processamento laboratorial dos casos periciais é realizado por dois peritos distintos, de forma independente, e compreende as etapas de extração de ADN, amplificação por PCR e análise de fragmentos. Para a amplificação são usados dois kits diferentes: o GlobalFiler e o PowerPlex Fusion 6C, que permitem a análise de 24 e 28 marcadores STR, respetivamente. Estes kits partilham vários marcadores e, quando aplicados à mesma amostra, é expectável que os alelos coincidam, permitindo assim confirmar a identidade do indivíduo e aumentar a robustez dos resultados periciais. O presente trabalho tem como objetivo apresentar dois casos em que se observaram discrepâncias nos perfis genéticos obtidos com os dois kits referidos, nomeadamente nos marcadores D12S391 e D18S51, nas mesmas amostras de referência. No caso 1, no marcador D12S391, apenas foi detetado o alelo 17 na amplificação com o kit GlobalFiler, enquanto que com o kit PowerPlex Fusion 6C foram detetados os alelos 17 e 20. No caso 2, no marcador D18S51, ocorreu uma situação similar em que na amplificação com o kit Globalfiler foi detetado apenas o alelo 13, enquanto que com o kit PowerPlex Fusion 6C foram detetados os alelos 12 e 13. Importa referir que ambos os casos se referem a amostras de referência, e que as amplificações foram repetidas com os dois kits com o objetivo de confirmar os perfis genéticos previamente obtidos. As discrepâncias observadas poderão ser justificadas pela ocorrência de mutações nos locais de annealing dos primers do kit GlobalFiler, conduzindo a fenómenos de allelic drop-out e, consequentemente, à não deteção de determinados alelos. Estes casos refletem algumas das dificuldades enfrentadas na rotina laboratorial forense, sendo que são de maior relevância quando se trata de amostras problema tanto de casos criminais, como de casos de identificação individual, podendo ter implicações significativas na interpretação dos resultados. Acresce que, a introdução na base de dados de apenas o perfil obtido com um dos kits (e.g., GlobalFiler) poderia resultar em ocorrência de hits incompletos, comprometendo a eficácia das buscas. Em suma, torna-se fundamental que o perito adote uma abordagem crítica e minuciosa na avaliação de cada caso, promovendo a validação cruzada dos perfis genéticos obtidos com diferentes sistemas multiplex. Idealmente, devem ser analisadas duas amostras biológicas distintas do mesmo indivíduo (e.g., sangue e saliva) com ambos os kits, reforçando a confiança e fiabilidade dos resultados obtidos.
