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A presente investigação procurou compreender de que forma o design pode desempenhar um papel ativo no combate ao êxodo rural, promovendo a atração e fixação da população jovem. Para responder à problemática, foi desenvolvida uma proposta projetual de um módulo habitacional de vivência temporária, concebido para proporcionar aos jovens uma experiência imersiva no contexto rural.
A abordagem a esta temática surgiu da observação da crescente desertificação territorial que se tem agravado ao longo das últimas décadas, devido a fatores como a centralização urbana, a falta de oportunidades fora dos grandes centros e a negligência institucional relativamente ao desenvolvimento rural. Esta problemática compromete a coesão territorial, social e económica de várias regiões, afetando não só o meio rural como também o bom funcionamento das áreas urbanas (Marques, et al., 2019). Se esta tendência não for revertida, terá implicações ainda mais constrangedoras para o equilíbrio social, resultando em insegurança e insustentabilidade. Estima-se que, até 2050, mais de metade da população mundial resida em cidades (UNO-Habitat, 2022), um cenário preocupante, tendo em conta que a extensão territorial destas é significativamente menor quando comparada às áreas rurais, colocando dúvidas sobre o planeamento e sustentabilidade do território. Posto isto, surgiu a questão principal da investigação, “Como o design pode contribuir para a revitalização das áreas rurais, atraindo a população jovem, combatendo o despovoamento demográfico?”. É importante compreender que são os jovens quem herdarão e moldarão os territórios, a economia, a cultura e os valores das sociedades no futuro. Não contemplar este grupo etário seria abandonar a base para qualquer mudança duradoura. A integração do design, como ferramenta de combate a este problema, parte da convicção de que o seu carácter multidisciplinar pode contribuir na ativação do potencial adormecido das zonas rurais, estimulando a sua revitalização. Deste modo surge a seguinte hipótese, “O design constitui uma ferramenta estratégica para auxiliar na inversão da desertificação das zonas rurais, através do desenvolvimento de soluções que envolvam as comunidades locais e os jovens urbanos.”
O desenvolvimento da investigação encontra-se estruturada em quatro fases importantes, exploratória, generativa, avaliativa e conclusiva seguindo os princípios abordados por Bruce Hanington e Bella Martin (2019). A primeira fase, exploratória, pretende compreender o problema e identificar de que forma o design pode ser aplicado para gerar resultados concretos. Investigando inicialmente os principais fatores que influenciam o êxodo rural, com foco nas motivações da população jovem, compreensão das perceções e aspirações que os habitantes têm sobre o meio onde vivem (rural e urbano), bem como as consequências que este fenómeno traz tanto para as zonas rurais como para as urbanas. Posteriormente, é abordado de que forma o design social pode potenciar a regeneração do tecido social e económico local, promovendo a valorização dos recursos endógenos e a participação ativa das comunidades.
Para responder a estes objetivos, recorreu-se a metodologias como, a revisão bibliográfica e documental, complementada pela aplicação de inquéritos por questionário, entrevistas e a análise de estudos de caso, para comparar a perceção real das partes afetadas, como para avaliar as soluções existentes que integram o design como estratégia para atenuar o problema. Com base nesta análise, concluiu-se que a solução projetual, deveria privilegiar a mobilidade em detrimento da fixação permanente dos jovens nas zonas rurais, e que para ser efetiva a sua revitalização, a proposta precisaria integrar três dimensões fundamentais, a valorização cultural, a inclusão social e a dinamização territorial.
Na segunda fase, generativa, foi proposta a solução, a RAIZ (Rede de Aprendizagem e Intercâmbio em Zonas Rurais), uma iniciativa que pretende mobilizar jovens e outros grupos interessados para uma experiência imersiva no contexto rural. Promovendo a aprendizagem prática e colaborativa com as comunidades locais, contribuindo assim para a regeneração social, económica e cultural das áreas rurais. Aspira-se que a presença recorrente destes grupos estimule o desenvolvimento económico local, favorecendo a fixação de novos habitantes ativos, que desenvolvam os seus próprios projetos, capazes de responder às novas necessidades locais que surjam.
Para testar esta premissa, propôs-se que a hipótese de solução seria a criação de um módulo habitacional de vivência temporária, funcionando como um protótipo de baixo impacto ambiental, social e cultural a ser avaliado no contexto rural.
Na fase avaliativa, para avaliar a proposta, contou-se com a colaboração de stakeholders estratégicos e experientes, como membros da comunidade Rural Pact e Designers Seniores, por meio de um inquérito por questionário. Os dados e o feedback recolhidos demonstraram-se positivos para com a iniciativa. No entanto, refere-se que existiram algumas preocupações relativamente à efetividade do objetivo do projeto na revitalização das zonas rurais, sabendo que o problema nunca poderá ser resolvido apenas pela implementação de projetos, mas sim por uma transformação social, económica e cultural. As principais preocupações apontadas foram a integração dos jovens nas comunidades e a aceitação destes por parte dos habitantes locais e se de facto, a iniciativa conseguirá contribuir para o crescimento económico e a resiliência destes territórios.
Por fim, na fase conclusiva, considerou-se pertinente desenvolver uma nova proposta com base no feedback dos stakeholders, atendendo os critérios de funcionalidade, sustentabilidade, integração no território e favorecimento da criação de relações interpessoais, visando garantir uma melhor aceitação por parte das comunidades locais e dos jovens participantes. Avulta-se que desde o início da investigação compreendeu-se que uma intervenção de design como a que foi proposta, poderia contribuir para a atenuação de parte do problema do êxodo rural, uma vez que este envolve variáveis incontroláveis que carecem de ação governamental para fomentar a revitalização destes contextos.
Contudo, com esta investigação ambicionou-se contribuir para uma nova perspetiva sobre o desenvolvimento territorial, em particular no meio rural, promovendo a sua valorização e a revitalização social, económica e cultural, apostando na deslocação temporária de jovens em formação, de diferentes áreas de estudo, para este meio. Sob este conceito, promove-se a integração dos jovens no meio rural, incentivando o seu contacto com os residentes locais, as culturas e os saberes tradicionais, de modo a reativar estas zonas através da interação e da criação de vida para além dos períodos de férias.
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Keywords
Desertificação Êxodo rural Design Sistema demográfico Revitalização
