Browsing by Author "Madureira, Muriela"
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- Estudo ecológico sobre o consumo de antidepressivos e suicídio na União EuropeiaPublication . Madureira, Muriela; Castro, André Lobo; Tarelho, Sónia; Franco, João MiguelIntrodução: Nas últimas décadas verificou-se um aumento exponencial do consumo de antidepressivos (ADs) na Europa, com diversos trabalhos a evidenciar controvérsia em torno da utilização destas substâncias. Enquanto alguns autores afirmam que os estudos epidemiológicos demonstram que o tratamento da depressão com ADs diminui o risco de suicídio, existem outros que sugerem um possível agravamento do risco de suicídio no início do tratamento, o que conduziu à emissão de advertências associadas a este contexto por parte da FDA e das Agências Europeias (EMA). Assim, a toxicologia forense reveste-se de particular importância, não só pelo incontornável contexto analítico como também pelos dados obtidos pela análise da sua casuística. O presente estudo ecológico tem como objetivo geral avaliar e interpretar as tendências de utilização de ADs e as taxas de suicídio em países da UE. Como objetivos específicos, pretende-se averiguar se o suicídio aumentou ou diminuiu com a utilização de ADs entre o período de 2003-2015 e comparar o impacto das variações do consumo de ADs e das taxas de suicídio em duas séries temporais: 2003-2008 e 2008-2015, em Portugal. Material e Métodos: Analisaram-se os dados sobre a utilização de antidepressivos (DDD/1000/dia) e a taxa de mortalidade padronizada (SDR) por suicídio entre 2003-2015, abrangendo-se 14 dos 28 países da UE. Os restantes países foram excluídos devido à falta de dados de uma ou de ambas as variáveis. Para efeitos de sistematização, os países analisados foram agrupados por regiões geográficas, segundo o seguinte critério: Norte (Suécia, Finlândia e Dinamarca); Ocidental e Centro (Bélgica, Holanda, Alemanha, Luxemburgo, Reino Unido e República Checa); Oriente ou Leste (Estónia e Eslováquia) e Sul (Portugal e Espanha). A análise estatística foi efetuada com recurso ao coeficiente de correlação ordinal de Spearman, utilizando-se um nível de significância de 0,05 (MedCalc). Resultados e Discussão: Entre 2003-2015 registou-se, em média, um aumento de 76% na DDD/1000/dia, observando-se um crescimento mais acentuado na República Checa, Eslováquia, Estónia e Portugal. No entanto, esse crescimento foi menos notório na Holanda, Hungria, Dinamarca e Luxemburgo. Durante o mesmo período de tempo, observa-se uma diminuição média de 18% relativamente à tendência da SDR por suicídio, salientando-se um maior impacto na Estónia, Eslováquia, Finlândia, Hungria e República Checa e um impacto contrário na Holanda, Luxemburgo e Reino Unido. De forma global, observou-se uma correlação inversa estatisticamente significativa entre o suicídio e o consumo de ADs (Rs=-0.321; p≤0.05), isto é, ao aumento da DDD/1000/dia parece corresponder uma diminuição da SDR por suicídio. Relativamente às regiões agrupadas, verificou-se que a média da SDR por suicídio mais baixa da UE corresponde à região com a média da DDD/1000/dia mais alta (Sul), sendo que o inverso também se verifica. Isto é, a média da SDR por suicídio mais alta da UE corresponde à região com a média da DDD/1000/dia mais baixa (Oriente ou Leste). Aparentemente, na maioria dos países, o consumo de ADs tem influência positiva na taxa de suicídio. No entanto, notáveis exceções foram observadas em Portugal e no Reino Unido apresentando uma correlação positiva entre as duas variáveis, sem significância estatística. Em Portugal, o impacto das variações estudadas demonstrou um aumento da variação de utilização de ADs nas duas séries temporais, embora mais pronunciado entre 2003-2008. Observou-se uma diminuição na variação da taxa de suicídio entre 2003-2008 verificando-se, contudo, o efeito contrário entre 2008-2015. O crescimento menos acentuado do consumo de ADs entre 2008-2015 dever-se-á ao decréscimo da sua prescrição por parte dos profissionais de saúde, resultante da advertência associada a este contexto, incluída nos folhetos informativos, em 2008, o que pode ter contribuído para este resultado. Conclusões: Os dados obtidos permitem abrir caminho para um estudo mais aprofundado relativo a esta temática em Portugal.
- Prevalência de antidepressivos, em amostras post-mortem de sangue total, em casos de suicido no Norte de Portugal: 5 anos em estudoPublication . Madureira, Muriela; Tarelho, Sónia; Castro, André Lobo; Vicente, Coralia; Franco, João MiguelIntrodução: Nas últimas décadas verificou-se um aumento exponencial do consumo de antidepressivos (ADsAD) na Europa, com diversos trabalhos a evidenciar controvérsia em torno da utilização destas substâncias, entre a eficácia que o tratamento da depressão com ADsAD apresenta no risco de suicídio e o possível agravamento do risco de suicídio no início do tratamento, o que levandoou à emissão de advertências associadas a este contexto por parte da FDA e da EMA. Assim, a toxicologia forense reveste-se de particular importância, não só pelo incontornável contexto analítico como também pelos dados obtidos pela análise da sua casuística. O presente estudo analítico, observacional, transversal e retrospetivo pretende avaliar a casuística interna do Serviço de Química e Toxicologia ForensesSQTF da Delegação do Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses INMLCF, I.P., relativamente à prevalência de antidepressivos, em sangue total, nos casos post-mortem de etiologia médico-legal suicida, entre junho de 2013 e maio de 2018. Material e Método: Selecionaram-se 9213 casos post-mortem autopsiados no Norte de Portugal, com pedido de análise toxicológica, nos cinco anos em estudo. Os dados foram obtidos através do Sistema de Gestão de Informação Laboratorial por ano civil e exportados para software Excel 2016. Foram consideradas as seguintes variáveis: o ano em estudo, a idade, o género, o provável diagnóstico diferencial médico-legal, o mecanismo de morte e as análises toxicológicas efetuadas. A análise estatística foi efetuada com recurso ao IBM SPSS (versão 25), recorrendo-se ao teste de Qui-quadrado (α=5%). Resultados e Discussão: O suicídio corresponde à segunda etiologia médico-legal com maior expressividade (N=1420), representando 15,4% dessa totalidade. A solicitação da deteção e da quantificação de substâncias medicamentosas em casos de suicídio no período em estudo sofreu um aumento, de 85% em 2013/14 para 92% em 2017/18, sugerindo uma sensibilidade crescente com esta temática. Constatou-se a presença de ADsAD em 426 casos (76,3%). Em 70,7% destes (N=301) foi detetado apenas um AD, ao passo que em 29,3% (N=125) foi detetada a presença de 2 ou mais ADsAD (568 quantificações). Os cinco principais ADsAD encontrados no Suicídio foram a Sertralina, o Citalopram, a Venlafaxina, a Mirtazapina e a Trazodona, representando 75% do total de casos positivos. Um ponto crucial foi questionar, desde logo, se os ADsAD aumentam o risco de comportamento suicidário acima do que é causado pela doença subjacente, a depressão major, ela própria a principal causa de suicídio. Neste sentido, foi imprescindível investigar se existe uma associação entre os ADsAD e a etiologia médico-legal, verificando-se uma associação estatisticamente significativa entre estas variáveis, p<0,001. Verificou-se que a presença de ADsAD no Suicídio apresenta o dobro do valor esperado (15,2%), sendo a etiologia médico-legal com maior contribuição para as diferenças estatisticamente encontradas. A maioria dos casos de suicídio positivos para ADsAD pertenciam ao sexo feminino (51,5% para 22,9%) comparativamente com o sexo masculino (22,9%), p<0,001. Paralelamente, a maioria dos casos pertenciam à população não jovem (≥ 25 anos; 98,5%), com maior representatividade na faixa etária dos >65 anos (p=0,002). Constatou-se que apenas 11,3% (N=48) do número total de suicídios positivos para ADsAD foram contextualizados como suspeita de intoxicação medicamentosa. A maioria dos ADsAD quantificados no Suicídio encontravam-se em concentrações consideradas terapêuticas (72%), com algumas exceções. As menores percentagens de casos a níveis terapêuticos corresponderam à suspeita de intoxicação, enquanto que a grande maioria destes casos estavam associados a outros atos suicidas alternativos. Em contrapartida, 28% dos ADsAD encontravam-se em concentrações consideradas tóxicas, na sua maioria associados a outros atos suicidas alternativos que não intoxicação. Conclusões: Os resultados descritos alertam para a necessidade da continuidade de implementação de medidas preventivas na área de saúde mental e da extensão do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio. A presente investigação, segundo apurado, é o primeiro estudo sobre a presença de antidepressivos em casos de Suicídio, em Portugal.