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Abstract(s)
O chamado mundo pós-soviético compreende a Europa de Leste, o Cáucaso e a Ásia Central tendo a Rússia procurado, de maneira cada vez mais visível, assumir um papel assertivo em toda esta vasta região geográfica. Porém, somente na Ásia Central esse posicionamento não se traduziu, até à data, em qualquer intervenção militar direta. Este
artigo parte de uma perspetiva comparativa para analisar a inexistência de manifestações de intervencionismo russo na região, em comparação com o eclodir de guerras no Cáucaso e na Europa de Leste. Esta análise centrar-se-á no exame de características políticas, económicas e geográficas regionais especificas na região do Cáucaso e Europa de Leste que possam fomentar uma ação agressiva da Rússia naquela parte do mundo pós-soviético.
Este artigo usa o conceito de “narrativa estratégica” para analisar o processo de construção da narrativa russa em relação ao espaço pós-soviético, com especial enfoque no caso da Ucrânia. Para este efeito, serão analisados os principais documentos de política externa, segurança e doutrinas militares, declarações oficiais dos principais responsáveis pelo desenho e implementação da política externa do Kremlin, bem como fontes secundárias relevantes. A narrativa estratégica russa inclui três dimensões inter-relacionadas, que combinam elementos materiais e ideacionais, nomeadamente reconhecimento, inclusão/exclusão e policentrismo (Miskimmon e O’Loughlin, 2017, pp. 115-118), e que serão centrais a esta análise. O artigo conclui que o processo de construção da narrativa estratégica russa em relação ao espaço pós-soviético consolida esta área como parte da segurança nacional russa, entendida de uma perspetiva de segurança ontológica, onde a Ucrânia é um elemento central e as ingerências ocidentais são consideradas ameaça existencial. O exercício de regresso a uma narrativa de confrontação, na identificação do “outro” como o “inimigo”, nas referências às divisões que marcaram a Guerra Fria, e nas “linhas verme lhas” que firmam a dissensão, em particular após os acontecimentos de 2014, é informado por narrativas estratégicas, que de forma consistente procuram justificar e legitimar a invasão russa da Ucrânia.
A crise ucraniana pode ser entendida como o resultado de uma prolongada e crescente com petição entre a União Europeia e a Rússia por poder e influência sobre a sua vizinhança partilhada na Europa Oriental. Contudo, mais do que o culminar de um processo, esta crise parece ter iniciado uma nova etapa nesta com petição, tendo ela própria um contributo significativo para a transformação do espaço pós-soviético e das dinâmicas de segurança no contexto europeu alargado. É justamente este contributo que este artigo se propõe a analisar e problematizar. Para o efeito, procede-se ao mapeamento do contexto regional que conduziu à crise ucraniana e que dá o mote para a análise crítica do seu contributo para a transformação das dinâmicas de segurança na Europa Oriental, em particular nos casos da Ucrânia, Moldova e Bielorrússia. O artigo ter mina com uma reflexão sobre a Guerra na Ucrânia e o futuro da segurança europeia.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, marca um ponto de viragem. Primeiro, significa o regresso da guerra inter-estatal em grande escala à Europa, visando expansão territorial. Em segundo lugar, indica uma mudança radical na estratégia da Rússia, da desestabilização da Ucrânia por meios relativamente limitados para a coerção militar massiva. Terceiro, sela o fim da ordem de segurança pós-Guerra Fria, cuja profunda crise a tornou ineficaz na prevenção do conflito. Quarto, a guerra reforçou a frente transatlântica, agravando assim as preocupações de segurança da Rússia. A guerra não pode ser explicada como resultado de uma escalada de tensões com o Ocidente, pois há enorme desconexão e desproporcionalidade entre as preocupações de segurança manifestadas por Moscovo e os seus objetivos. É essencial, assim, entender os fatores domésticos: a perceção do Kremlin sobre a “perda” da Ucrânia, numa mistura de pensamento geopolítico e identitário, e a escalada gradual da sua estratégia na Ucrânia, face a cenários consecutivamente falhados.
Este artigo usa o conceito de “narrativa estratégica” para analisar o processo de construção da narrativa russa em relação ao espaço pós-soviético, com especial enfoque no caso da Ucrânia. Para este efeito, serão analisados os principais documentos de política externa, segurança e doutrinas militares, declarações oficiais dos principais responsáveis pelo desenho e implementação da política externa do Kremlin, bem como fontes secundárias relevantes. A narrativa estratégica russa inclui três dimensões inter-relacionadas, que combinam elementos materiais e ideacionais, nomeadamente reconhecimento, inclusão/exclusão e policentrismo (Miskimmon e O’Loughlin, 2017, pp. 115-118), e que serão centrais a esta análise. O artigo conclui que o processo de construção da narrativa estratégica russa em relação ao espaço pós-soviético consolida esta área como parte da segurança nacional russa, entendida de uma perspetiva de segurança ontológica, onde a Ucrânia é um elemento central e as ingerências ocidentais são consideradas ameaça existencial. O exercício de regresso a uma narrativa de confrontação, na identificação do “outro” como o “inimigo”, nas referências às divisões que marcaram a Guerra Fria, e nas “linhas verme lhas” que firmam a dissensão, em particular após os acontecimentos de 2014, é informado por narrativas estratégicas, que de forma consistente procuram justificar e legitimar a invasão russa da Ucrânia.
A crise ucraniana pode ser entendida como o resultado de uma prolongada e crescente com petição entre a União Europeia e a Rússia por poder e influência sobre a sua vizinhança partilhada na Europa Oriental. Contudo, mais do que o culminar de um processo, esta crise parece ter iniciado uma nova etapa nesta com petição, tendo ela própria um contributo significativo para a transformação do espaço pós-soviético e das dinâmicas de segurança no contexto europeu alargado. É justamente este contributo que este artigo se propõe a analisar e problematizar. Para o efeito, procede-se ao mapeamento do contexto regional que conduziu à crise ucraniana e que dá o mote para a análise crítica do seu contributo para a transformação das dinâmicas de segurança na Europa Oriental, em particular nos casos da Ucrânia, Moldova e Bielorrússia. O artigo ter mina com uma reflexão sobre a Guerra na Ucrânia e o futuro da segurança europeia.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, marca um ponto de viragem. Primeiro, significa o regresso da guerra inter-estatal em grande escala à Europa, visando expansão territorial. Em segundo lugar, indica uma mudança radical na estratégia da Rússia, da desestabilização da Ucrânia por meios relativamente limitados para a coerção militar massiva. Terceiro, sela o fim da ordem de segurança pós-Guerra Fria, cuja profunda crise a tornou ineficaz na prevenção do conflito. Quarto, a guerra reforçou a frente transatlântica, agravando assim as preocupações de segurança da Rússia. A guerra não pode ser explicada como resultado de uma escalada de tensões com o Ocidente, pois há enorme desconexão e desproporcionalidade entre as preocupações de segurança manifestadas por Moscovo e os seus objetivos. É essencial, assim, entender os fatores domésticos: a perceção do Kremlin sobre a “perda” da Ucrânia, numa mistura de pensamento geopolítico e identitário, e a escalada gradual da sua estratégia na Ucrânia, face a cenários consecutivamente falhados.
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Keywords
União Europeia (a partir de 1993) Política externa Segurança europeia Geopolítica Guerra russo-ucraniana, 2022- Ocidente Ex-URSS Perspectivas Europa do Leste Europa Oriental Ásia Central Cáucaso Ucrânia Moldávia Bielorússia Rússia
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Publisher
Instituto da Defesa Nacional