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Enquadramento: A cervicalgia é um motivo de consulta muito frequente em Cuidados de Saúde Primários. O Médico de Família deve saber que a sua etiologia não se limita a patologia muscular ou degenerativa da coluna cervical.
Justificação: Divulgação de entidade nosológica rara que pode motivar cervicalgia.
Descrição de Caso: Homem de 36 anos, inspetor administrativo, pertencente a uma família nuclear na fase IV do ciclo de Duvall, de classe média. Antecedentes pessoais de amigdalectomia. Em 23 de Agosto de 2012 recorreu a consulta com queixas de cervicalgia e dor retro e supra-auricular esquerda (“Parece que estão a cortar a orelha” sic). Ao exame objetivo apresentava contractura da musculatura cervical à esquerda. Perante a inespecificidade do quadro optou-se por prescrição de anti-inflamatório (naproxeno, 500mg, 2id, 3 dias). O utente recorreu a consulta em 3 de Outubro de 2012 por manter as cervicalgias, agora de predomínio à direita, acompanhadas de parestesias no membro superior direito, relacionando estas queixas com má postura laboral. Ao exame objetivo constatou-se contractura de músculos cervicais, cervicalgia à rotação cervical e ligeira limitação na mobilização ativa do ombro direito. Perante o quadro com meses de evolução optou-se pela realização de TAC cervical onde se visualizaram apófises estilóides exuberantes, nomeadamente a esquerda (61mm de comprimento), sugerindo o diagnóstico de síndrome de Eagle. Referenciou-se para avaliação por Cirurgião Maxilo-Facial que ficou com dúvidas sobre a total relação das queixas com o alongamento das apófises e propôs a orientação para Medicina Física e da Reabilitação. Em contacto recente, o utente revelou que não realizou fisioterapia por não encontrar ninguém especializado no seu caso. Refere que mantém algum desconforto cervical em certas posições em decúbito dorsal, situação que não compromete a sua qualidade de vida.
Discussão: A síndrome de Eagle caracteriza-se por sinais e sintomas causados pela compressão de estruturas neuronais e vasculares por um processo estilóide alongado ou ligamento estilo-hióideo calcificado. As queixas mais comuns são a dor cervical e/ou facial. Neste caso o alongamento do processo estilóide ocorre num indivíduo com antecedentes de amigdalectomia. Perante cervicalgia prolongada sem alívio com analgesia e desinflamação, o diagnóstico de síndrome de Eagle poderá ser colocado. O diagnóstico imagiológico é fundamental, podendo-se também palpar o processo estilóide na fossa amigdalina. Uma minoria das pessoas com esta variante anatómica experiencia sintomas. O tratamento eficaz da síndrome de Eagle é a remoção cirúrgica dos processos estiloides. Contudo, em casos duvidosos preconiza-se uma abordagem conservadora com vigilância.
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Síndrome Eagle Dor cervical