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Abstract(s)
A violência conjugal surge como um grave problema social e de saúde pública cada
vez com maior visibilidade, consequência da maior transparência das relações
familiares, da redefinição do papel das mulheres na família e na maior
possibilidade do exercício dos seus direitos. Para dar resposta às repercussões
sobre a saúde física e psicológica das vítimas, os enfermeiros de família atuantes
nos cuidados de saúde primários (CSP) surgem como importantes atores neste
contexto, pois trabalham, por definição, numa lógica de proximidade e
continuidade, reportando-se à prestação de cuidados ao longo do ciclo vital,
visando a promoção da saúde, prevenção da doença, tratamento e reabilitação.
Desta forma, é urgente refletir sobre as práticas de cuidados que têm sido
prestados às mulheres vítimas de maus-tratos. Desenvolveu-se um estudo do tipo
Quantitativo Descritivo Transversal com a finalidade de contribuir para uma
melhoria dos Cuidados de Enfermagem prestados a mulheres vítimas de violência
conjugal (VC), visando identificar as práticas dos enfermeiros nos Cuidados de
Saúde Primários neste âmbito, e descrever os fatores que influenciam essas
mesmas práticas. Participaram no nosso estudo quarenta (40) enfermeiros de
família que trabalham num Agrupamento de Centros de Saúde (ACES), tendo sido
utilizado para a colheita de dados um questionário com dez questões abertas.
Usou-se a análise de conteúdo da qual emergiram nove categorias integradas nas
dimensões que foram definidas à posteriori tendo por base as fases do processo de
enfermagem (Dimensão 1 -Diagnóstico, Dimensão 2 - Planeamento, Dimensão 3 -
Implementação e Dimensão 4 - Avaliação). Da análise do discurso dos enfermeiros,
verificou-se que os respondentes consideram em maior número as consequências
psicológicas como necessidades a serem alvo dos seus cuidados. Contrariamente
ao modelo biomédico, estes enfermeiros debruçam também o “olhar” sobre
aspetos de subjetividade que favorecem a manifestação das causas das lesões
XII
físicas que cuidam, como possibilidade de violência, sendo disso exemplo, a
avaliação das alterações psíquicas, os sentimentos e as reações da vítima e seus
recursos. Parecem portanto, assumir que é importante a avaliação das forças e
recursos internos (pessoais) e externos (sociais) que as utentes têm, sendo estes
necessários para ultrapassar as suas dificuldades e medos, nomeadamente, a
capacidade da mulher pedir ajuda e sugerir soluções, o apoio familiar, assim como
o apoio económico e social, que pode advir também de instituições a nível
comunitário. Uma outra competência da vítima que os enfermeiros promovem
através de intervenções como o informar sobre aspetos legais e recursos sociais, e
da implementação de objetivos que dizem respeito à promoção das estratégias de
coping, é a autonomia e o empoderamento psicológico da mulher. A avaliação da
vítima inserida num contexto familiar ecossistémico também se verifica, embora
com pouca expressão no discurso dos enfermeiros. Quando estes se referem à
identificação das necessidades de enfermagem decorrentes da VC e à informação
documentada, está patente nos dados obtidos que a vítima é entendida como o
foco e razão de ser do processo de intervenção e não se denota uma intervenção
em que a dinâmica relacional do casal possa também ser alvo atenção, sendo que,
o enfoque é dado ao impacto que os maus tratos têm na mulher, e às lesões a que
foi sujeita. O estabelecimento de parcerias informais com a família ou formais
com a rede comunitária na prestação de cuidados de enfermagem em situações de
violência conjugal (VC) não foi referida pelos enfermeiros como estratégia para
lidar com este problema, sendo que estes fundamentalmente consideram que, o
que distingue o seu papel e a sua intervenção neste âmbito é o apoio e
encaminhamento das vítimas. Verifica-se também que as estratégias de avaliação
de resultados não refletem uma visão processual dos cuidados, pois não são
referenciados os objetivos definidos face ao diagnóstico, como critério para
avaliação da adequação das intervenções às mudanças propostas. Os enfermeiros
identificam como fatores potenciadores da sua prática para o acompanhamento de
situações de VC, a capacitação ou formação contínua e especializada, a
consciencialização para o seu papel nesta área, assim como, a existência de
articulação, de partilha de experiências ou até de informação com profissionais de
outras especialidades.
Description
Keywords
Violência doméstica Enfermagem