SESARAM - MDor - Medicina de Dor
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Browsing SESARAM - MDor - Medicina de Dor by Subject "cultura de segurança dos doentes"
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- Tese : Avaliação da Cultura de Segurança dos Doentes nos Cuidados de Saúde Primários: Um estudo pioneiro em PortugalPublication . Ornelas, Marta DoraIntrodução: A comissão europeia nas suas recomendações relativas à segurança do doente (SD), refere que nos seus Estados-Membros, mais de 37 milhões de doentes que recorrem aos cuidados de saúde primários (CSP) são vítimas de acontecimentos adversos devido aos cuidados de saúde prestados1. A frequência destes eventos varia entre os 0,04 e os 2400 Eventos Adversos (EA) por 10.000 consultas efetuadas nos CSP2 . De acordo com Milligan3, de nada vale implementar medidas que promovam as boas práticas (e consequentemente a redução de EA), se os profissionais que trabalham nas organizações de saúde não estiverem sensibilizados para a segurança dos doentes, e a educação dos doentes, dos seus familiares, profissionais de saúde, gestores e políticos não for uma prioridade e um tema de debate, reflexão e uniformização de conceitos. Métodos: Nesta dissertação, descreve-se a avaliação da cultura de segurança dos doentes (CSD) e dos EA nos CSP de uma região autónoma de Portugal. O estudo foi quantitativo, transversal, observacional e analítico, com uma amostragem probabilística e decorreu em três fases principais. Na primeira fase, avaliamos a cultura de segurança dos doentes nos CSP da Região Autónoma da Madeira (RAM), através da tradução, adaptação, aplicação e validação para a língua portuguesa do Medical Office Survey on Patient Safety Culture (MOSOPSC). Na segunda fase, quantificamos e analisamos os EA registados pelos profissionais de saúde (médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF), internos desta especialidade e enfermeiros) no formulário Estudio de los EA en Atención Primária de Salud (APEAS) que traduzimos,adaptamos e validamos para a língua portuguesa. Na última fase deste estudo, procuramos relacionar os resultados obtidos nas duas fases anteriormente descritas. Para a validação do MOSOPSC e APEAS recorremos também à metodologia inerente aos focus groups. Resultados: Participaram na avaliação da cultura de segurança dos doentes, através da aplicação do MOSOPSC 483 profissionais (médicos,internos da especialidade de MGF, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, assistentes técnicos e assistentes operacionais) que exerciam atividade nos 47 centros de saúde (CS), distribuídos pela RAM.Nos CSP da RAM prevalece uma cultura de segurança rocrático-proactiva, com o trabalho em equipa e o seguimento dos doentes a representarem as dimensões da qualidade mais robustas. Como áreas que exigem implementação de estratégias de melhoria, destacam-se a pressão, ritmo e quantidade de trabalho,o apoio por parte das chefias/liderança/gestão e a abertura na comunicação. Os CSP foram avaliados como muito bom/bom na equidade (84%), efetividade (79%), eficiência (62%), centralização no doente (62%) e oportunidade (57%). A maioria das respostas positivas na dimensão efetividade foram dadas pelos profissionais de saúde com mais tempo de serviço (p-value=0,003). Foram também estes mesmos profissionais que consideraram os CSP da RAM mais centrados no doente, mais oportunos e eficientes (p-value=0,019). Os profissionais de enfermagem, comparativamente com a classe médica, consideraram os cuidados de saúde mais efetivos (p-value=0) e eficientes (p-value=0,001). Preencheram o questionário APEAS 152 profissionais de saúde (médicos, internos da especialidade de MGF e enfermeiros), que desta forma pontual tificaram e analisaram 85 EA e 42 incidentes, o que corresponde a uma prevalência pontual de 3,9 EA por 10.000 consultas, com um intervalo de confiança (IC) compreendido entre os 3,7 e os 4 EA. A maioria dos EA ix identificados foram considerados, pelos profissionais de saúde, como preveníveis (96%) e ligeiros (54%); tinham por base, problemas relacionados com os cuidados de saúde prestados (74%), com a medicação (70%) e com a comunicação (54%). Os profissionais com mais de seis anos de tempo de serviço registaram mais EA, enquanto que, os com menos tempo de serviço, registaram sobretudo incidentes. 81% dos registos/notificações realizados pelos profissionais de enfermagem diziam respeito a EA, enquanto que esta prevalência foi de 58% na classe médica. Os utentes, que sofreram incidentes de segurança, tinham uma média de idade de 54,5 anos; 60% eram do sexo feminino e 72% apresentava pelo menos um fator de risco ou doença. Os eventos foram mais frequentes nos doentes com hipertensão arterial (HTA), diabetes, insuficiência cardíaca e insuficiência renal (p-value < 0,05). A ansiedade, stress, depressão, necessidade de repetir procedimentos ou consultas e pior curso evolutivo da doença de base, foram também mais frequentes, nos doentes que sofreram EA. Nos agrupamentos de centros de saúde (ACES) com maior registo de EA identificamos: 1) Uma cultura de segurança mais centralizada no doente (r=0,753 e p-value=0,012), mais efetiva (r=0,765 e p-value=0,010), mais oportuna (r=0,689 e p-value=0,027), mais eficiente (r=0,652 e p-value=0,041) e equitativa (r=0,782 e p-value=0,008); 2) Uma melhor classificação dos sistemas e procedimentos que têm lugar nos CSP da RAM para evitar, identificar e corrigir problemas que possam afetar os doentes (r=0,641 e p-value=0,046). Conclusão: Os CSP da RAM são relativamente seguros, equitativos e eficientes. Os profissionais de saúde trabalham em equipa e os doentes são bem acompanhados. Problemas com a pressão/ritmo, quantidade de trabalho, suporte por parte das chefiasa liderança/gestão, abertura na comunicação e falta de recursos materiais e humanos, necessitam de intervenções urgentes. Neste estudo para além de validarmos dois instrumentos (alfas de cronbach superiores a 75%) fomos ao encontro das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), da União Europeia e da Direção Geral da Saúde (DGS). Contribuímos desta forma, para a SD e para colmatar a lacuna no conhecimento científico sobre esta temática nos cuidados de saúde em geral e nos CSP em particular.