Browsing by Author "Oliveira, Paulo Alexandre Gorjão Lourenço de"
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- Caracterização das construções dos bairros ferroviários do EntroncamentoPublication . Oliveira, Paulo Alexandre Gorjão Lourenço de; Mascarenhas, Jorge Morarji dos Remédios DiasNa segunda metade do século XIX, grande parte dos países da Europa e os Estados Unidos conheceram um grande desenvolvimento industrial e agrícola com a máquina a vapor que permitiu uma maior produção de bens e uma maior facilidade no seu transporte. Também Portugal, ainda que vivesse uma grande instabilidade política, procurou acompanhar este fenómeno, desenvolvendo as suas indústrias e procurando melhorar os seus transportes com a introdução da ferrovia. O desenvolvimento do caminho de ferro começou por tentar estabelecer duas ligações importantes a partir de Lisboa, uma ligação ao Porto e outra a Madrid. Devido às dificuldades na travessia do Rio Tejo em direção a Espanha nas proximidades da capital, privilegiou-se uma ligação para norte seguindo a margem do Tejo até ao lugar do Entroncamento, de onde se estabeleceram outras ligações para este, oeste e norte. Assim, a partir do final do século XIX, o nó ferroviário do Entroncamento assumiu uma crescente importância no sistema de transporte ferroviário, não só como ponto de reparação e manutenção dos equipamentos, mas também como estação de confluência e expedição de mercadorias. Tal como acontecia noutros países da Europa, especialmente em Inglaterra, havia a clara consciência por parte das empresas e dos governos da necessidade de se alojar de forma condigna os trabalhadores que afluíam do campo para trabalhar nos centros industriais. Colocaram-se então na altura questões sobre como deveriam ser habitações económicas e salubres para os trabalhadores. A construção dos Bairros Ferroviários do Entroncamento promovidos pela empresa de Caminhos de Ferro Portugueses vai ocorrer na viragem do século e início do século XX, um período muito conturbado de grandes mudanças sociais, em que se acentuavam as disputas políticas entre Republicanos e Monárquicos, mesmo após a implantação da República em 1910. Por um lado, a Monarquia, por se sentir ameaçada pelas ideias republicanas do centro da Europa, procurava manter uma arquitetura conservadora, fazendo uso de técnicas construtivas e materiais fortemente enraizados na tradição portuguesa. Por outro lado, os Republicanos, em reação, procuravam absorver os novos modelos arquitetónicos vindos do exterior, principalmente da França Republicana, onde o betão armado era tido em definitivo como uma forma de se construir sólida, económica e durável, sem necessidade de grande manutenção.A conceção e construção dos bairros operários do Entroncamento, que teve sempre presente a preocupação alojamento com a dignidade que se impunha aos trabalhadores vindos do mundo rural, foi processo interessante, porque existiu uma dualidade de ideias, por um lado adotando modelos muitos rústicos das casas tradicionais de trabalhadores rurais tendo como inspiração a Casa Portuguesa, e por outro os procedimentos práticos do mundo ferroviário, que procuravam solucionar os problemas recorrendo a formas e técnicas mais expeditas e modernas.